Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Lélia Abramo, Uma atriz boicotada

“A minha atitude naturalmente de esquerda que não posso negar, prejudicou muito minha carreira profissional. Estava ligada à Rede Globo, e ela nunca admitiu que os atores tenham uma ideologia política. Não foi tanto um problema político, mas sindical porque como presidente do Sindicato dos Artistas tive que defender aquilo que a lei mandava. Até aquele momento nós tínhamos a CLT, mas com a regulamentação da profissão, houve disposições legais em relação aos atores e técnicos. Como presidente do Sindicato, em São Paulo, eu tinha que defender essas leis porque era uma representante do Departamento do Trabalho. Nessa época, eu estava fazendo novela “Pai Herói” nessa emissora, então ela matou o meu personagem e me tirou da novela. Depois disso, ainda fui chamada para fazer “Pão Pão, Queijo Queijo” e, também, o “Tempo e o Vento”, mas parece antes de receber o convite houve muita discussão. Procurei obter provas dessas discussões, mas as pessoas negaram dizendo que nada havia acontecido. De lá para cá, nunca mais fui convidada para nada. Então, a partir daquele momento eu compreendi que minha que carreira estava liquidada e, de fato, estava porque depois disso durante quinze anos recebi apenas alguns convites, esporádicos. Com certeza, essa postura da tevê Globo interferiu muito na minha relação com as demais emissoras porque elas também não me chamaram mais para atuar em suas novelas. Apesar de ter muitos amigos diretores e escritores em todas elas, elas não me convidaram mais”.

“Já existia um certo mal estar, antes mesmo de assumir a direção do Sindicato dos Artistas, porque há muito tempo eu já vinha recebendo muitas injustiças. Uma delas, por exemplo, foi quando fiz o filme “Vereda da Salvação”, premiado em Berlim, e eu não fui convidada para a festa. Também quando fiz “A Casa dos Irmãos Naves” e, apesar ser considerado o melhor filme estrangeiro daquele ano e ter sido a única atriz premiada, eu não estava lá porque também não fui convidada. Um embaixador me disse que eu não ia, porque não era “nem jovem nem bonita”. Eu presumo que havia um certo preconceito contra a minha família porque todos os meus irmãos sempre tiveram posturas muito claras de esquerda, enquanto eu era o elo mais fraco da família por ser mulher, sozinha e por isso a mais visada”.

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