Participação no 1º de Maio de 1980
“No 1º de Maio de 80 já existia o Partido dos Trabalhadores, mas nesse dia toda a oposição também estava presente. Todos se reuniram em frente à Igreja da Matriz, em São Bernardo do Campo, e seguiram em marcha até ao Estádio de Vila Euclides, também nesse município. Durante todo o trajeto, nós cantamos a música Geraldo Vandré, "Pra não dizer que não falei das Flores", os homens carregando seus filhos nas costas, e todos com cravos vermelhos nas mãos”.
“O Brasil é um país que precisa de uns 300 anos para começar
a ter consciência da cidadania”
“É por conhecer a força de transformação de um Artista, de um Jornalista que os donos das cadeias de TV, jornais, cercam seus profissionais, num círculo de fogo”
fac-símile do Jornal impresso Macunaima com destaque a entrevistas com Lélia Abramo
“Nessa época, eu era presidente do Sindicato dos Artistas e, portanto, mobilizei toda minha diretoria e fomos para São Bernardo. Eu não poderia persuadir a Entidade a ter posições políticas, mas foi o que acabou acontecendo. Pessoalmente, assumi e escolhi um caminho e o Sindicato veio atrás. Este era um momento muito especial, quando havia inúmeros movimentos, e não somente no ABC. Em São Paulo, por exemplo, existia o movimento contra a carestia, contra a fome, etc., sempre tendo à frente a igreja católica que deu iniciou à Revolta, através das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), Teologia da Libertação, que apoiou a todas essas manifestações. Na véspera do 1º de Maio eu havia recebido um maço de cravos, e me lembro que antes de ir a São Bernardo do Campo, num gesto instintivo, levei as flores e comigo. Ao chegarmos lá distribuí os cravos a toda minha diretoria, e também para todas as pessoas que estavam por perto. Para minha surpresa muita gente também havia levado flores, embora o clima não estava para cravos e rosas e, sim uma praça de guerra tinha se instalado em pleno ABC.
Havia soldados com metralhadoras e cães, em todo canto. Também os helicópteros da polícia sobrevoavam baixinho, com o intuito de amedrontar o povo que já se aglomerava na igreja e na Praça da Matriz. Poucas vezes, em toda a minha vida presenciei uma situação assim, tão contrastante; de um lado, a polícia arrogante, furiosa e petulante e, de outro, o povo com muita determinação e coragem. Quando iniciamos a passeata, em direção ao estádio da Vila Euclides, eu disse para alguém que estava ao meu lado que nós estávamos em perigo. O comandante me reconheceu e disse que se eu não quisesse sofrer nada, que ficasse a seu lado que ele me protegeria. Imediatamente, respondi que preferiria passar perigo, e a ficar ao lado dos meus. Durante a passeata, a polícia avançava e se postava contra o povo e as pessoas, por sua vez, cantavam; era dezenas de milhares de pessoas, uma massa compacta. Evidentemente, que deve ter havido uma troca de informações do comandante que estava lá na praça, com a sede do Exército porque em certo momento, quando estávamos próximos ao Estádio, a polícia recuou e desapareceu. Nós entramos gloriosos no estádio, e assim foi um comício belíssimo, apoteótico”.
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