Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

domingo, 27 de junho de 2010

Simplesmente Dercy Gonçalves


Fiel à sua intuição, Dercy Gonçalves sempre respeita as marcações, a luz e os horários dos ensaios:

- Mas na hora de representar sou Dercy Gonçalves.

Quando é apresentada a um diretor, responde invariavelmente:

- É a eles que você vai dirigir, a mim, não, não gosto de ensaio porque acabo dizendo uma coisa e, quando o pano abre, eu digo outra. Posso não ter grande cultura teatral, mas sei o que funciona e o que não funciona em cena.

Uma certa viúva


Um dos maiores sucessos de Dercy foi A grande víúva, de Somerset Maughan, um autor frequentado por grandes damas de teatro como Dulcina de Moraes. A carreira ganha outra dimensão. Tradutor da peça, Miroel Silva diz: "O personagem de Dercy está à léguas do de Somerset, ela dá à protagonista uma tradução que os brasileiros compreendiam e gostavam"

Dercy de pé


A partir do final dos anos 60, Dercy abandona a dramaturgia, para recorrer a um formato mais próximo ao show, em que ela tem papel solo. Inicialmente, alguns autores são chamados a escrever sob encomenda. Depois, a própria atriz assina roteiro e direção. O nome dos espetáculos muda, mas seu conteúdo e sua forma são sempre idênticos: solos de Dercy Gonçalves com sua comicidade bufa em diálogo direto com o espectador, sem personagem, feito de uma seqüência de piadas e tiradas cômicas. O palavrão tem uso recorrente, o que faz o crítico Sábato Magaldi observar que, nos espetáculos da atriz, o palavrão aplaudido tem função de ária de ópera.

Crítica dividida


Em 1985, a atriz recebe o Troféu Mambembe como melhor personagem de teatro, uma categoria criada especialmente para ela que, em setenta anos de carreira, não conquistou nenhum prêmio por seu desempenho de atriz. Os críticos vêem dois lados de abordagem de seu trabalho: o lado do sucesso fácil e o da autenticidade. Yan Michalski, quando a atriz anuncia seu afastamento dos palcos, em 1971, escreve:


"Não é este, por certo, o teatro popular que eu gostaria de ver florescer no Brasil: a obstinação de Dercy em ver o público das chamadas camadas menos privilegiadas como algo de irremediavelmente primário; a sua recusa em contribuir para que esse público fosse levado sequer um passo na direção da conscientização; a sua ojeriza a qualquer idéia de renovação - tudo isso caracteriza uma posição revoltantemente reacionária".



Já o crítico Sábato Magaldi aborda o estilo da atriz pelo lado da assumida marginalidade:
"Imperceptivelmente, começa-se a sentir por que Dercy sintoniza tanto com o público. Ela assume a própria marginalidade, erigindo-a como um troféu. O povo brasileiro também, por circunstâncias históricas, políticas e econômicas, acabou sendo marginalizado, ainda que ostente o emblema da completa soberania. Dercy perseguida, incompreendida, marginalizada, mas dando a volta por cima, no deboche e no sarcasmo, confunde-se com a efígie não expressa que parcela ponderável da população tem a seu próprio respeito. O riso provoca a catarse. (...) rindo, se aprende com ela uma profunda lição de brasilidade".



Fonte: Itaú Cultural

Indirigível


"Nos anos 50, quando a revista já não atrai o mesmo público, Dercy Gonçalves dedica-se à comédia. Nos espetáculos em que atua, Dercy se sobrepõe ao texto, nunca representando a personagem, mas fazendo com que esta se amolde a ela. O restante do elenco se converte em apoio aos improvisos da diva popular, reduzindo-se ao papel de coro. Este procedimento é alvo de críticas, que, no entanto, não abalam o direcionamento da atriz.
A partir do final dos anos 60, A partir do final dos anos 60, Dercy abandona a dramaturgia, para recorrer a um formato mais próximo ao show, em que ela tem papel solo. Inicialmente, alguns autores são chamados a escrever sob encomenda. Depois, a própria atriz assina roteiro e direção. O nome dos espetáculos muda, mas seu conteúdo e sua forma são sempre idênticos: solos de Dercy Gonçalves com sua comicidade bufa em diálogo direto com o espectador, sem personagem, feito de uma seqüência de piadas e tiradas cômicas. O palavrão tem uso recorrente, o que faz o crítico
Sábato Magaldi observar que, nos espetáculos da atriz, o palavrão aplaudido tem função de ária de ópera."


Fonte: Itaú Cultural

Nas revistas de Walter Pinto


No Rio de Janeiro, Dercy Gonçalves faz carreira no teatro de revista na década de 30 e, nos anos 40, trabalha para a empresa de Walter Pinto em espetáculos como Rumo a Berlim, de Freire Jr. e Walter Pinto; Passo de Ganso, de Freire Jr., em 1942; Rei Momo na Guerra, de Freire Jr. e Assis Valente, 1943; Momo na Fila, de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto, 1944; e Canta Brasil, de Luiz Peixoto, Geysa Bôscoli e Paulo Orlando, 1945; todos com direção de Otávio Rangel. Nos anos 50, quando a revista já não atrai o mesmo público, dedica-se à comédia.


Walter Pinto (1913 -1994). Produtor e autor. Produtor dos maiores espetáculos de teatro de revista brasileiro, é responsável pela reformulação do gênero, nos anos 40 e 50.


"O êxito de Walter Pinto é devido, sobretudo, a ele mesmo. Podem figurar nos letreiros luminosos os nomes de Oscarito, Dercy Gonçalves, Virginia Lane, Grande Otelo ou Mara Rubia, as maiores atrações nacionais. De um momento para outro, esses grandes nomes (...) são obrigados a sair do palco das revistas de Walter Pinto. Saem mas não fazem falta. O êxito é o mesmo... A explicação é óbvia: Walter Pinto apresenta uma revista em conjunto, e é o conjunto que se firma. Sua maior vitória está neste detalhe", conta o crìtico Carlos Machado

Os Pascoalinos


Dercy Gonçalves, estreia em 1929, na cidade de Leopoldina na Companhia Maria Castro, fazendo dueto com Eugênio Pascoal. No ano seguinte, viaja pelo interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, apresentando-se em dupla com Eugênio Pascoal, como Os Pascoalinos. Eles também se apresentaram em circo. Um sucesso da dupla era a canção Malandrinha e os passos de tango. Dercy ainda era Dolores.

Puro improviso


"Dercy Gonçalves pertence a uma categoria especial de ator, dos grandes comediantes populares puramente intuitivos. Atriz do teatro de revista e posteriormente dedicada a shows solitários, é o maior expoente do teatro de improviso no Brasil".

sábado, 19 de junho de 2010

Dedos em riste


Dona de uma personalidade forte, Dolores cresceu sob a mira do pai, por vezes violento. Foi bilheteria de cinema e tinha a mania de se comportar como as atrizes Teda Bara e Pola Negri, tidas como escandalosas para a época. Certa vez, cortou cabelo igual a das estrelas. O povo de Madalena estranhava. Aos poucos, sem Dolores perceber, eles foram a transformando numa prostituta.

A menina Dolores


Dercy Gonçalves nasceu Dolores, na pequena cidade fluminense de Santa Maria Madalena, em 23 de junho de 1907, filha de alfaiate, neta de coveiro, com vó preta no sangue. Teve uma infância livre, mas conturbada com a partida da mãe, que abandona tudo ao saber que o marido tinha um amante. "Morreu de vergonha", conta Dercy.