Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Os feitos de Dulcina


Foto: Arquivo FTB

"Ninguém tem um aprofundamento maior sobre a história de Dulcina de Moraes. Se você observar que ela organizou, em 1959, o primeiro encontro nacional de teatro, com grandes nomes da inteligência nacional, como Raimundo Magalhães Jr., Bibi Ferreira e Paschoal Carlos Magno. Odilon Azevedo fez cem anos, em 2003, e ninguém lembrou. Dulcina foi a única atriz brasileira que representava, com perfeição, em português e espanhol, em turnês de meses em Portugal, Argentina e Uruguai. Ela trouxe os primeiros grandes autores modernos dos Estados Unidos para o seu repertório. Anualmente, fazia festivais com os alunos no Municipal, onde lançou nomes como Rubens Corrêa e Ivan Albuquerque. Depois, resolveu inventar um festival de teatro amador, que encenou pela primeira vez O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Quis abrir uma representação da FBT em cada estado brasileiro, mas acabou desistindo para se dedicar à construção em Brasília, que demorou muito tempo",

Por B. de Paiva

O ritual de Dulcina

Foto: Arquivo/FTB

A porta permanece cerrada. Dá acesso à garagem por onde Dulcina de Moraes entrava e saía do teatro projetado por Oscar Niemeyer, sem precisar cruzar o foyer. Era espécie de passagem secreta que só os funcionários da Fundação Brasileira de Teatro (FBT) sabiam da existência. Quando ela girava a chave, o indefectível perfume e as pisadas firmes dos sapatos denunciavam que a matriarca adentrava ao seu templo. Mística, ela tinha um ritual. Antes de entrar no palco, espécie de território sagrado, beijava-o. Era um ato de respeito. Ali, estava diante de obra que ergueu com orgulho e ímpeto. Enfrentou a falta de dinheiro em construção que se arrastou por mais de uma década (1972 -1981). Até o determinismo do projeto do famoso arquiteto, ela alterou.

— Era íntima da família. A irmã de Niemeyer, Dulce Nunes, era professora da FBT. Dulcina costumava dizer que ele entendia era de cenários. De arquitetura cênica, era ela que sabia, lembra o amigo, diretor e professor B. de Paiva.