Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Teatro vivo




“Eu achava que Cacilda Becker era um teatro”, respondeu um jovem no Twitter, enquanto era feita a divulgação do módulo do Mitos do Teatro Brasileiro, que se renderia em homenagens à maior atriz do teatro moderno — primeira dama do Teatro Brasileiro de Comédia e ícone da luta pela democratização do país nos anos 1960.

A observação do jovem internauta é a constatação da urgência de projetos como o Mitos do Teatro Brasileiro, cujo mérito cultural é alicerçado na memória nacional daqueles que ergueram as artes cênicas nacionais no país. Ao longo de seis módulos, que reverenciaram a trajetória de Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira, Nelson Rodrigues, Cacilda Becker e Chico Anysio, o Centro Cultural Banco do Brasil fomentou a construção de conhecimento para plateia sedenta e qualificada, que compareceu massivamente, lotando algumas sessões (como a de Nelson Rodrigues e de Chico Anysio).

Com cenas inéditas criadas para o projeto misturadas a depoimentos de convidados e material audiovisual, o formato cênico deu uma dinâmica potente ao projeto, que chegou ser classificado pela mídia como “teatro-documentário”. Ao fim de seis módulos, o CCBB e o projeto Mitos do Teatro Brasileiro cumpriram a missão de repor à sociedade brasileira a importância do teatro e de seus construtores para a formação cultural do país. “Pela primeira vez, eu vejo, aqui neste palco, a justiça sendo feito à memória de Dulcina de Moraes e de tantos outros que deram a vida pela arte teatral”, anunciou Nicette Bruno, que abriu o projeto.

Evoé!

Mitos do Teatro Brasileiro - Chico Anysio

André Lucas e Chico Anysio fazem esquete na homenagem ao ator no CCBB Brasília em outubro de 2010
Elisete Teixeira, j. Abreu e Wilson Granja na cena em que Cacilda Becker encontra Alberto Roberto

Chico Anysio fala das mais de 11 mil apresentações em teatro

Elisete Teixeira e J. Abreu reverencia a obra de Chico Anysio

Elisete Teixeira é Dulcina de Moraes. J. Abreu, Haroldo, o Hetero

Mitos do Teatro Brasileiro - Dulcina de Moraes

Luciana Martuchelli vive fã que copiou o figurino de Chuva, de Dulcina de Moraes, na apresentação do CCBB Brasília, em maio de 2010

J. Abreu ao lado do bastão de Molière, que pertence ao acervo da Fundação Brasileira de Teatro

J. Abreu e Nicette Bruno em momento de camarim



Sérgio Maggio entre Francoise Forton e Nicette Bruno: Viva Dulcina!


J. Abreu e Luciana Martucheli em cena que exalta a força de Dulcina de Moraes no teatro brasileiro

Mitos do Teatro Brasileiro - Dercy Gonçalves

Adriana Nunes vive a falsa vedete Cassandra Plicts em homenagem realizada no CCBB Brasília em junho de 2010

As vedetes Carmem Verônica e Íris Bruzzi falam sobre o fenômeno Dercy Gonçalves

Adriana Nunes surge na plateia como uma aspirante ao teatro de revista

Cassandra Plicts cai no tango com Eugênio Paschoal, partner de Dercy

Ao final, a escola de samba Acadêmicos da Asa Norte canta o samba enredo de Dercy Gonçalves

Mitos do Teatro Brasileiro - Procópio Ferreira

J.Abreu encarna dona Lucília Peres em frente ao mendigo de Deus lhe Pague, na homenagem a Procópio Ferreira, no CCBB Brasília, em julho de 2010


Bemvindo Siqueira, que viveu o mendigo em remontagem histórica de Deus lhe pague, é aplaudido de pé por todos


Gê Martú vive Cyrano de Bagerauch, enquanto J. Abreu dá vida ao garçom do bar Beija-Flor. Luciana Martuchelli é a musa dos dois

Bemvindo Sequeira e Lauro César Muniz falam da experiência ao lado de Procópio


J. Abreu e Gê Martu encarnam os mendigos de Deus lhe pague, de Joracy Camargo









Mitos do Teatro Brasileiro - Nelson Rodrigues


J. Abreu (na época, Jones Schneider) na pele de Nelson Rodrigues, no projeto Mitos do Teatro Brasileiro (CCBB Brasília em agosto de 2010)

Dina Brandão se veste de Susana Flag, alter ego em crise com seu criador

Beth Goulart fala de sua experiência com Doroteia e lembra da avó, a grande atriz Eleonor Bruno


Camila Amado vasculha histórias da época em que fez Alaíde em montagem comemorativa de Vestido de Noiva, com direção de Ziembinsky

J. Abreu é o cenógrafo Santa Rosa. Dina Brandão, Madame Clessy, no encontro alucinante que abriu o projeto

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Salve, Sergio Britto. Ave, Suely Franco!

Foto/Divulgação

Duelo de feras

Sérgio Maggio

Vai ser difícil esquecer o som da melodia das palmas alongadas da plateia que foi a pre-estreia de Recordar é viver, no Teatro Sesc Anchieta. Quando espetáculo acabou, Sergio Britto e Suely Franco receberam o carinho de um público extremamente agradecido e admirado com o trabalho desses dois grandes nomes do teatro nacional.

Recuperado de uma internação hospitalar em meados de 2010, Sergio Britto aparece pulsante, em cena, num personagem que dialoga com a fragilidade da velhice, quase que numa metáfora a sua força de homem de teatro que vence barreiras físicas para estar firme no palco, como fez, em 2009, com a excepcional peças curtas de Samuel Beckett.

Em seu ritmo, Sergio acompanha o furacão Suely Franco que cresce a cada cena como uma mãe atormentada com o destino selado de sua família. Em algumas sequências, o humor cortante do personagem Alberto arranca palmas em cena aberta, num trabalho que o deixa extremamente à vontade no palco.


Sergio Britto é um ator de composição de personagens. E Alberto ganha contornos sutis nas mãos de um dos maiores atores brasileiros de sua geração.

- Tem tempo, diz Alberto para marcar o quase-bordão do personagem, que atravessa a montagem marcado pela complacência do pai com um filho em desacerto.

A voz hesitante, o andar cambaliante, as mãos nervosas, as palavras que se atropelam criam um Alberto muito próximo de uma humanidade solicitada pela encenação realista de Eduardo Tolentino. O contraste com a Ana, de Suely Franco, dá ebulição ao espetáculo. A atriz cresce cena a cena e carrega a narrativa num desempenho, por vezes, de tirar o fôlego. O diretor prioriza a mecânica do texto do jornalista Hélio Sussekind, no qual as personagens secundárias servem mais como combustão aos protagonistas. O encontro de Suely e Sérgio sufoca, em parte, os coadjuvantes, dando a sensação de serem fragéis demais diante desse duelo de feras.

Recordar é viver, que faz um painel sobre o desencanto de um núcleo familiar de classe média, é uma boa estreia de Hélio Sussekind, apesar de um excesso de clichês, sobretudo, nos diálogos.

Sergio Britto e Suely Franco têm pontos comuns na carreira. Um deles é a estreia de Beijo no Asfalto (1961), de Nelson Rodrigues, peça escrita especialmente para Fernanda Montenegro e encenada pelo Teatro dos Sete, com Ítalo Rossi também no elenco. A temporada é histórica, com direito a interrupções de espectadores irados com o atentado à moral e aos bons costumes.


Em tempo: Sergio Britto era um dos homenageados do projetoMitos do Teatro Brasileiro, Ano I, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília. Mas infelizmente não pôde vir para ser celebrado por conta de recomendação médica, que o impediu de pegar voos.
- Agora, querido, só fico entre Rio e São Paulo, contou ao fim da sessão do Sesc Anchieta.

- Desculpe, não dá lhe muita atenção. Você viu o que aconteceu ao final? Quantas palmas? Estou muito emocionado. Nem ia falar nada, mas resolvi voltar e agradecer a esse público contagiante, obrigado!, contou Sergio Britto.


RECORDAR É VIVER

SESC Consolação
28/01 a 27/02.
Sextas e sábados, às 21h e domingos às 19h
Drama familiar que se passa no início dos anos 90 num bairro de classe média do Rio de Janeiro. De Hélio Sussekind. Direção de Eduardo Tolentino de Araújo. Com Suely Franco, Sergio Britto, José Roberto Jardim, Camilo Bevilacqua, Ana Jansen e Anna Cecília Junqueira.


Não recomendado para menores de 14 anos
R$ 32,00[inteira]
R$ 16,00[usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante]
R$ 8,00[trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes]