“Quando os italianos chegaram no Brasil eles não se acostumaram com a senzala e, então, houve uma grande fuga. A fazenda dos Carvalhos, por exemplo, tratavam os colonos italianos como escravos e obviamente eles não aceitavam e, por essa razão, fugiram e vieram todos para São Paulo. Lembro que meu avô materno contava que, em Araraquara, eles tinham um sinal que era o de deixar o trinco das portas abertas para que os colonos fugitivos pudessem entrar. Eles entravam nas casas, também de italianos, que deixavam os trincos abertos e, assim, recebiam alimentação, dormiam durante o dia e, à noite, partiam. Dessa forma, vieram de casa em casa desde Rio Preto até São Paulo. Anos depois, a Tizuca Iamazaki fez um filme onde ela mostra essa história como se ela tivesse acontecido com os japoneses, mas não foi; ela roubou essa história dos italianos. Eu ainda era pequena, mas lembro que o Japão enviava os seus imigrantes para o Brasil com todos os contratos de trabalho já assinado. Assim, iam direto para os lugares aonde tinham a garantia de casa, alimentação, e trabalho. Então, quem fugia à noite das fazendas eram os italianos e não os japoneses como Tizuca tentou mostrar em seu filme”. ( Pedro Abramo - pai de Lélia foto acima)
“Ainda durante a fuga os italianos se dividiam em regiões porque eles são muito regionalistas. Em São Paulo, todos os Napolitanos moravam inicialmente no Anhangabaú, que era meio pantanosa e, por essa razão, foram afetados por uma epidemia de varíola. Então, seguiram para a Bela Vista que, a partir desse momento, passou a ser conhecido como “Bairro do Bexiga” porque todos os italianos estavam bexiguentos devido a essa epidemia. Já os Venetos escolheram os bairros da Mooca e do Brás. A maioria dos italianos veio da Calábria e do Veneto, que são lugares onde não havia trabalho então eles saíram de lá indo direto para Curitiba e, em seguida, para outros Estados do Sul do Brasil. É por essa razão que justamente nesses estados que encontramos o Brasil muito mais desenvolvido e avançado, e a explicação é foram construídos pelas mãos dos italianos, alemães e poloneses. Nessa época houve uma espécie de barganha e um acordo entre os governos brasileiro e italiano, uma vez a Itália necessitava se livrar do imenso número de desempregados e sem terra. Tudo isso aconteceu no final do século passado e princípio desse. Muitos italianos escolheram a Argentina para morar porque lá o inverno também é rigoroso, assim como o seu país de origem, enquanto que no Brasil fazia muito calor. Já aqueles que ficaram no Brasil escolhiam bairros frios como São Paulo, e que era chamado de como “Terra da Garoa”. Assim que instados no país, a maneira que os italianos encontraram para atrair o povo foi criar um grupo de teatro, tanto que a tradição do teatro brasileiro nasceu com eles. Ao mesmo tempo em que faziam uma padaria, eles também criavam um teatro e os Saraus Literários. Nessa época, por exemplo, só em Paulo existiam uns dez ou doze teatros. Eu mesma conheci três deles que, apesar de pequenos eram fantásticos”.
Fonte Portal Macunaíma
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