Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Eles comentam sobre Mitos

Eu fui...

 (Edílson Rodrigues/CB/D.A Press )

“Adorei conhecer o lado mais íntimo do Paulo Autran, as histórias interessantes que sua mulher (Karin Rodrigues) contou. Ouvir isso em primeira mão não tem preço”
Henrique Tomassi, 29 anos, paleontólogo

 (Edílson Rodrigues/CB/D.A Press )

“Dá vontade de fazê-lo ressurgir para ver pelo menos uma peça. Queria ver mais pessoas apaixonadas pelo ofício, como ele era, e não apenas preocupadas com a repercussão. Hoje senti falta do que não vivi”
Michelly Amorim, 26 anos, bacharel em direito

Autran sorri


Mariana Moreira

Publicação: 23/09/2011 08:58 Atualização:

Cenas dos atores Silvana de Faveri e J. Abreu intercalaram depoimentos  (Edilson Rodrigues/CB/D.A Press )
Cenas dos atores Silvana de Faveri e J. Abreu intercalaram depoimentos


Karin Rodrigues arrancou gargalhadas da plateia com as histórias contadas: graça aprendida com o marido (Edílson Rodrigues/CB/D.A Press )
Karin Rodrigues arrancou gargalhadas da plateia com as histórias contadas: graça aprendida com o marido
O termo homenagem pode soar melancólico e tendente ao saudosismo. Mas a atriz Karin Rodrigues e o ator e diretor Elias Andreato fugiram da obviedade e imprimiram um tom leve ao tributo que o projeto Mitos do Teatro Brasileiro fez, na última quarta-feira, ao ator Paulo Autran. Ao falar dele, a dupla manteve sintonia no humor e na emoção, exaltando em uníssono características que toda a classe artística atribui ao senhor dos palcos: a grandeza cênica, a humildade nos relacionamentos e a entrega incondicional ao teatro. A noite ainda teve cenas que revelaram a intimidade e a trajetória do homenageado, interpretadas por J. Abreu e (a surpreendente) Silvana de Faveri no tablado.

As participações de Autran, em cenas e entrevistas exibidas no telão, foram um indício do clima cômico da noite. Sua sinergia com Tônia Carrero durante um especial da peça Um Deus dormiu lá em casa, exibido pela televisão nos anos 1980, divertiu o público. Em outra passagem bem-humorada, protagonizada pelo ator, ele contou a respeito de sua primeira peça. O texto, retirado de uma revista infantil, chamada Tico Tico, originalmente se chamava O tio da roça. Paulo demonstrou intimidade com o tema ao fazer sua primeira adaptação — o tio virou tia, para que a mãe do vizinho pudesse interpretá-lo. Em sua primeira produção, ele cobrou ingresso da vizinhança, com valores diferenciados para adultos e crianças.

Karin começou o depoimento com voz embargada. “Esta é a primeira vez que venho a Brasília sem o Paulo”, contou a viúva do ator. Em seguida, assumiu sua porção espevitada e arrancou gargalhadas da plateia. Para mudar um pouco o discurso de exaltação, a atriz elencou defeitos do marido. “Ele não gostava de perder no jogo, fumava muito, dirigia mal, queria as janelas sempre fechadas e não deixava os cachorros subirem no sofá”, enumerou. Pequenas intimidades ganharam tom jocoso: “Ele nunca engordou. Manteve o peso e as mesmas roupas de solteiro”, brincou.

Cinzas no jardimNem ao falar da morte Karin deixou a graça de lado, habilidade que diz ter aprendido com Autran. “Ele parou de fumar por um ano e meio e fez cinco pontes de safena. Ele era sempre o máximo”, destacou. Um dos episódios que mais despertaram risadas foi o relato sobre a cremação do ator. Ao receber seus restos mortais, a atriz teve a ideia de atirá-las no jardim. “É gostoso pensar que ele está no meio das flores”, afirmou. Amigo e parceiro profissional de longa data, Andreato emendou: “O Paulo detestava ir para o jardim. Queria ficar fumando dentro de casa. Enquanto a Karin jogava as cinzas, ela dizia: ‘Agora você vai para o jardim’”. Ao ser perguntada se Paulo gostaria de morrer no palco, a atriz cravou: “Todo ator gostaria de morrer no palco, assim como todo nadador gostaria de morrer na piscina”.

Andreato sustentou o bom humor de Karin e também leu um poema, inspirado na amizade que manteve com Autran e a mulher: “Amigo que não ri junto não sabe chorar junto”. A risada foi uma das lições que o amigo deixou. “Nos últimos seis anos em que convivi com eles, a vida foi mais leve, mais alegre. A gente deu muita risada, até o último momento”, relata. Sentado na plateia, Sergio Mamberti foi convidado a se juntar a eles no palco. “Vi Paulo e Tônia em Um deus dormiu lá em casa. Ele foi meu modelo de ator”, afirmou Mamberti.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Salve, Paulo Autran!




Silvana de Faveri encarnou Tônia Carrero enquanto J. Abreu, Adolfo Celi numa cena que ressalta a importância da Cia. Tônia-Celi-Autran, sobretudo, na formação de repertório. Estrearam com Otelo, de Shakespeare. Para Celi, a cena que Otelo vê Desdemôna morta é uma das mais lindas do teatro brasileiro. Ao fundo, Karin Rodrigues e Elias Andreato apreciam a cena.

Salve, Bibi Ferreira!

"Bibi Ferreira só existe uma no teatro brasileiro. Acho que é um fenômeno que não se repete", diz Fernanda Montenegro.

Ecos de Paulo Autran

‎"Maravilhosíssimo!!!!" Foi assim que a minha mãe descreveu o projeto Mitos do Teatro Brasileiro, que ontem homenageou o inesquecível Paulo Autran no CCBB.Morri de tristeza por não ter podido ir... Parabéns mais uma vez, Sérgio Maggio! Me resignei com a reprodução apurada dos diálogos deliciosos de Karin Rodrigues e Elias Andreato feitas por minha mãe. Axé, Sérgio! continue nos dando estes presentes! :)

Gilnei Costa Deliciosamente fantástico o Mitos de ontem. Parabéns a toda equipe!


Juliana Drummond Foi energia boa, suave e deliciosamente bom...! Muito grata!

  • há 7 horas · · 1 pessoaCarregando...
  • Juliana Zancanaro Parabéns Sergio, esse projeto é lindo!!! (um "jornalista" também já me perguntou se minha inspiração era a Elizabeth I daquele filme... hehe. Ainda bem q o colega dele mesmo já corrigiu "é a rainha cara, da Inglaterra, de verdade")

  • Lívia Bennet delícia ver você.. muitos beijos


Nirton Venancio Foi uma das melhores noites do Mitos do Teatro. Karin Rodrigues com simpatia e com seu jeito muito espirituoso de relatar momentos da vida com Paulo Autran fez desse encontro uma invocação ao grande ator e ao prórpio Teatro. Simpatia e elegância também na pessoa do diretor Elias Andreato. Até a "invasão" no palco de Sérgio Mamberti abrilhantou mais ainda a noite em homenagem a Paulo Autran. Parabéns a você, Sérgio, ao J. Abreu e Silvana De Faveri. O único "porém" foi a presença em vídeo do abusado, indelicado e falso provocador Abujamra, que fez feio no mês passado na homenagem a Lélia Abramo.há 3 horas ·

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sua Majestade, Autran!

Aclamado patrono do teatro brasileiro, Paulo Autran ganha homenagem hoje (21/09) no CCBB

Mariana Moreira


Um dos maiores intérpretes do Brasil, Paulo Autran fez do ofício de ator um sacerdócio: mais de 50 anos no palco (Arquivo CB/D.A Press )
Um dos maiores intérpretes do Brasil, Paulo Autran fez do ofício de ator um sacerdócio: mais de 50 anos no palco

Liberdade, liberdade, peça de Millôr Fernandes e Flávio Rangel que estreou em 1965 e marcou a dramaturgia brasileira, começava com um ator bradando no palco: “Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro”. Esse intérprete, porém, extrapolou os limites da própria fala. Por sua dedicação inconteste e ilimitada aos tablados, ganhou a alcunha de “senhor dos palcos”. O reconhecimento à sua grandeza de caráter e aos infinitos matizes que imprimiu em seus personagens chegou à esfera governamental. Recentemente, ele ganhou o título de patrono do teatro brasileiro. Paulo Autran é o homenageado desta edição do projeto Mitos do Teatro Brasileiro, que prossegue hoje, em sua segunda temporada, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com entrada franca.

Os convidados para dar depoimentos sobre o ator poderão construir, ao mesmo tempo, um mosaico sentimental e artístico de sua trajetória: a viúva de Autran, a atriz Karin Rodrigues, dividirá a homenagem com o amigo e parceiro do marido em diversos trabalhos, o ator e diretor Elias Andreato. Karin e Autran se conheceram durante a peça Equus, em 1975, e não resistiram à vontade de estar sempre juntos. “Aquilo foi evoluindo e, de repente, percebi que só queria ficar com o Paulo. A relação evoluiu para um companheirismo grande. Sinto muita falta dele e, se sei alguma coisa de teatro, aprendi com ele. Não tanto pelo que ele ensinava, mas por poder vê-lo representar”, admite.

As qualidades do companheiro ultrapassam o universo cênico, segundo Karin. “Me encantava o humor que ele tinha diante das coisas boas e ruins. Era um companheiro maravilhoso, inteligente e talentoso, as conversas eram ótimas, ele era de fácil convívio, estávamos no mesmo ritmo”, revela a atriz, que não vem a Brasília há cerca de uma década.

Perguntada pela curadoria do projeto sobre a companhia ideal para dividir as histórias de Paulo Autran, ela não titubeou: sugeriu o nome de Andreato, que dirigiu e atuou ao lado do casal em algumas oportunidades e acabou entrando para o círculo mais íntimo de convivência. “Ele o dirigiu nas últimas montagens (Visitando Sr. Green, Adivinhe quem vem para rezar, além do último trabalho, O avarento) e era quase da nossa família. Ao lado do produtor Germano Baía, éramos chamados de ‘os quatro mosqueteiros’. Elias estava no quarto de hospital quando Paulo morreu”, conta Karin.

Entre amigos
Os dois atores se conhecem desde a infância de Elias, mas sem qualquer intimidade. Depois de sua experiência como assistente de direção na peça Para sempre, de Maria Adelaide Amaral, Andreato foi convidado por Autran para dirigi-lo. “O que mais me surpreendeu foi a disponibilidade dele. Paulo era um ator extremamente generoso e disponível, e isso é raro. Ele me deu credibilidade como artista”, acredita.

A partir daí, o contato se estreitou. “Tínhamos uma afinidade de humor. Nos divertíamos muito juntos. Antes de tudo, ele deixou um repertório maravilhoso, era culto, teve uma formação incrível. E era muito apaixonado por teatro, queria ver todos os espetáculos, os amadores, os que eram encenados à meia-noite”, relembra o ator e diretor, que trará um texto escrito por seu irmão, Elifas Andreato, sobre a relação de parceria e amizade que estabeleceu com Paulo Autran.

Além das memórias tecidas diante da plateia, o projeto seguirá intercalando depoimentos com projeções de entrevistas e cenas originais em tributo ao ator, criadas pelos diretores Sérgio Maggio e J. Abreu. Na primeira delas, a amiga que o convidou para sua estreia profissional (na peça Um Deus dormiu lá em casa, dirigida por Adolfo Celi), Tônia Carrero, contracena com Ziembinski, um dos grandes diretores teatrais do país, enquanto conversa com ele sobre passagens da vida de Autran. Na segunda participação dos atores, novamente surge Tônia, desta vez ao lado do então marido, Adolfo Celi. Em parceria com o homenageado da noite, o casal montou uma companhia teatral, a Tônia-Celi-Autran (CTCA).

O tributo se encerra com Bibi Ferreira dirigindo Paulo em uma espécie de espetáculo no qual ele canta, dança e sapateia. No papel de todas as figuras femininas desta edição, está a atriz Silvana de Faveri. “Autran se dedicou à carreira de corpo e alma e mostrou que é possível viver do ofício de ator com muita dignidade”, destaca a atriz.

J. Abreu, ator e codiretor do Mitos do Teatro Brasileiro, divide o palco com ela, interpretando Ziembinski, Celi e o próprio Paulo. “A gente queria trazer também a Tônia Carrero, mas ela não pôde, por problemas de saúde. Nesta edição, além do Paulo Autran, quisemos homenagear todos esses outros nomes, importantes pra carreira dele e para o teatro brasileiro”, ressalta.

Reconhecimento
Em 15 de julho deste ano, o Diário Oficial da União (DOU) publicou a Lei 12.449/11, que declara Paulo Autran patrono do teatro brasileiro. A iniciativa foi do ex-deputado gaúcho Pompeo de Mattos. O título, aprovado em junho pelo Congresso Nacional, tem valor simbólico e não resulta em qualquer benefício material. “Fiquei muito contente com a honraria”, afirma Karin Rodrigues. O ator, que se formou em direito antes de começar a carreira, morreu em 2007, aos 85 anos.


MITOS DO TEATRO BRASILEIRO
Hoje, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Trecho 2, lote 22; 3108-7600). Entrada franca. Senhas distribuídas com uma hora de antecedência. Não recomendado para menores de 12 anos.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Senhor dos palcos


O CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL E O PROJETO MITOS DO TEATRO

BRASILEIRO — ANO II CELEBRAM A VIDA E A OBRA DE PAULO AUTRAN, ACLAMADO
PATRONO DO TEATRO BRASILEIRO

O Brasil já estava amordaçado pela ditadura militar quando Paulo Autran foi para o centro do palco, sob o foco de luz, clamar: “Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro.” De cara limpa, anunciava ao mundo, que estava ali para lutar, por meio do seu ofício, pela restituição de um país democrático. Em Liberdade, liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, o ator, maduro em sua consciência política, mostrava uma das facetas daquele que se doou plenamente ao palco, construindo um teatro preocupado em refletir as agruras e as agonias do homem contemporâneo. O projeto Mitos do Teatro Brasileiro celebra a trajetória de “o senhor dos palcos”, dia 21 de setembro, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil, com entrada franca (as senhas para o encontro devem ser retiradas uma hora antes do evento).

“Poder interpretar num mesmo espetáculo, farsa, drama, comédia, tragédia, textos íntimos, épicos, românticos, é tarefa com que sonha qualquer ator, principalmente quando os atores se chamam Shakespeare, Beaumarchais, Büchner, Brecth, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Sócrates”, anunciou Paulo Autran. Homem de todos os teatros, que construiu uma carreira de repertório espetacular, trocou a promissora carreira de advogado pelo exercício de interpretar tantos sonhos. Da estreia profissional ao lado de Tônia Carrero em Um deus dormiu lá em casa (1949) a O avarento (2006), construiu uma trajetória de coerência artística e ética, sendo reconhecido, ainda em vida, como um dos maiores símbolos do teatro brasileiro. Em junho de 2011, Paulo Autran foi declarado Patrono do Teatro Brasileiro. O título, aprovado pelo Congresso Nacional, foi oficializado em lei assinada pela presidenta Dilma Rousseff.

Para celebrar a arte ímpar de Paulo Autran, os atores J. Abreu e Silvina de Faveri interpretam cenas inéditas, criadas pelo dramaturgo e diretor Sérgio Maggio, enquanto os atores Karin Rodrigues e Elias Andreato testemunham fatos relevantes vividos ao lado do senhor dos palcos. “Fico emocionada em ir a Brasília para falar de Paulo Autran”, diz a atriz e companheira Karin Rodrigues, que encenou grandes sucessos de Autran, como Pato com laranja e Vestir o pai. “É uma grande reverência em minha trajetória”, completa Elias Andreato, que dirigiu Autran, em 2000, na montagem Visitando o Sr. Green, espetáculo que marcou os 50 anos de carreira do ator

Após celebrar, com êxito de público e crítica, as trajetórias de Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira, Nelson Rodrigues, Cacilda Becker, Chico Anysio, Maria Clara Machado, Plínio Marcos e Lélia Abramo, Mitos do Teatro Brasileiro segue saudando a memória de Augusto Boal (18 de outubro, com Amir Haddad e Aderbal Freire-Filho) e Dina Sfat (22 de novembro, com Juca de Oliveira e Thelma

Reston). “É uma segunda geração do século 20, que vai permitir apontar as grandes transformações do teatro brasileiro a partir dos anos 1960”, observa Maggio.

Num formato de teatro-documentário, no qual se constrói ao vivo a biografia cênica do homenageado, a partir da junção de esquetes, depoimentos e vídeos, o projeto Mitos do Teatro Brasileiro contribui para consolidar a memória das artes cênicas. “É uma aula-espetáculo, na qual aprendemos juntos, artistas e plateia, a entender a construção desse teatro”, observa o ator J. Abreu.

Paulo Autran, Patrono do Teatro Brasileiro


O ator Paulo Autran foi declarado patrono do teatro brasileiro. O título, aprovado pelo Congresso Nacional em junho, foi oficializado no Diário Oficial da União, em lei assinada pela presidenta Dilma Rousseff.

Conhecido como senhor dos palcos, Autran começou a carreira no teatro no fim da década de 40. Depois de atuar em montagens amadoras, estreou profissionalmente em Um Deus Dormiu Lá em Casa, dirigida por Adolfo Celi, no Teatro Brasileiro de Comédia.

Depois do sucesso da estreia e incentivado pela atriz Tônia Carreiro, Autran decidiu largar a advocacia e se dedicar às artes. Ator de teatro, cinema e televisão, ele se dedicou principalmente aos palcos. Ao longo da carreira, fez 90 peças, entre elas clássicos como Rei Lear, de William Shakespeare, Édipo Rei, de Sófocles, e A Vida de Galileu, de Bertold Brecht.

No cinema e na televisão, Autran também é reconhecido por atuações marcantes, como em Terra em Transe, de Glauber Rocha, lançado em 1967. Na TV, é lembrado principalmente pelas participações na novela Guerra dos Sexos, em que contracenava com Fernanda Montenegro, e pelo vilão Bruno Baldaraci, em Pai Herói.

Em 2006, o ator foi diagnosticado com câncer de pulmão. Morreu em 2007, aos 85 anos.

O título de patrono tem valor simbólico, e não implica benefício material ao homenageado ou a seus sucessores.

Nos amadores


Paulo Paquet Autran (Rio de Janeiro RJ 1922 - São Paulo SP 2007). Ator. Intérprete de grandes recursos expressivos e vários registros dramáticos, inicia-se nos anos 1950 e constrói sólida e diversificada carreira, protagonizando um repertório que inclui os maiores autores clássicos e contemporâneos.

Inicia-se no teatro em 1947, com Os Artistas Amadores, grupo fundado por Madalena Nicol, que encena Esquina Perigosa, de J. B. Priestley, um dos espetáculos que marcam a fase amadora do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), nos seus primórdios.

A caminho da profissionalização


Paulo Autran volta aos palcos com A Noite de 16 de Janeiro, de Ayn Rand, 1948, no papel de um advogado, profissão que, de fato, ele exerce no período. Em 1949, entra para ao Grupo de Teatro Experimental (GTE), atuando em Pif-Paf e A Mulher do Próximo, textos e direções de Abílio Pereira de Almeida, e como o protagonista de À Margem da VIda, de Tennessee Williams, no Teatro Copacabana, Rio de Janeiro, todas em 1949. Ainda nesse ano, numa produção de Fernando de Barros, protagoniza ao lado de Tônia Carrero, recém-chegada de Paris, Um Deus Dormiu Lá em Casa, de Guilherme Figueiredo, seu primeiro papel no profissionalismo. Em 1950, a mesma companhia realiza Amanhã, Se Não Chover, de Henrique Pongetti, com direção de Ziembinski. No ano seguinte, ele e Tônia Carrero são contratados em São Paulo: ele, para o TBC e ela para a Companhia Cinematográfica Vera Cruz.

Em 1951, atua em importantes produções da companhia, tais como: Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi Pirandello, direção de Adolfo Celi; Arsênico e Alfazema, de Joseph Kesselring, direção também de Celi; Ralé, de Máximo Gorki, direção de Flaminio Bollini, e A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, encenação de Luciano Salce. Com Antígone, de Sófocles (1º ato) e de Jean Anouilh (2º ato), dirigido por Adolfo Celi, em 1952, arrebata o Prêmio Saci de melhor intérprete; que vai repetir-se com Na Terra Como No Céu, de Franz Hochwalder, e Assim É...(Se Lhe Parece), novamente Pirandello, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, ambos em 1953. Outro grande sucesso de sua carreira no TBC vem com Santa Marta Fabril S. A., em 1955. No ano seguinte, ele, Tônia Carrero e Adolfo Celi saem do TBC e fundam, no Rio de Janeiro, a Companhia Tônia-Celi-Autran (CTCA), estreando com Otelo, de William Shakespeare. Nos anos seguintes, as mais significativas montagens que sobem à cena são: A Viúva Astuciosa, de Carlo Goldoni, 1956; Entre Quatro Paredes (Huis Clos), de Jean-Paul Sartre, 1956; Frankel, de Antônio Callado, 1957; A Ilha das Cabras, de Ugo Betti, 1958; Calúnia, de Lillian Hellman, 1958; Negócios de Estado, de Louis Verneuil, 1958; Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi Pirandello, 1959; Lisbela e o Prisioneiro, de Osman Lins, 1961; Um Castelo na Suécia, de Françoise Sagan, 1961; e Tiro e Queda, de Achard, última montagem da CTCA em 1962.

De Bibi Ferreira a Flávio Rangel


Paulo Auitran estreia, com brilho e sucesso, ao lado de Bibi Ferreira em My Fair Lady, 1962. Em 1964, com Maria Della Costa, está em Depois da Queda, de Arthur Miller, direção de Flávio Rangel, para o Teatro Maria Della Costa (TMDC), recebendo o Prêmio Associação Paulista dos Críticos Teatrais, APCT, de melhor ator. Faz, logo após, um show de boate denominado Paulo Autran da 1 às 2, repetindo Flávio Rangel como diretor, que inspira a criação de Liberdade, Liberdade, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes, levado em 1965 no Opinião, enorme sucesso de crítica e público. Ainda com o espetáculo correndo o país, Paulo filma Terra em Transe, de Glauber Rocha, em que vive o ditador de um país latino-americano, saudado como o mais importante lançamento de 1967.

Com pernas próprias


Paulo Autran monta sua própria companhia e, em 1966/1967, percorre o Brasil com uma encenação de Flávio Rangel para Édipo Rei, de Sófocles, ao lado de Cleyde Yáconis. Esse tipo de atuação repete-se com O Burguês Fidalgo, de Molière, em 1968. Em 1970 faz o show Brasil e Cia. e, no mesmo ano, integra uma controvertida montagem de Macbeth, de William Shakespeare, com direção de Fauzi Arap. Antunes Filho o dirige no espetáculo Nossa Vida em Família (Em Família), de Oduvaldo Vianna Filho, 1972. Ainda nesse ano, vive o Quixote no musical O Homem de la Mancha, de Wasserman, novamente com Bibi Ferreira, bem como o protagonista de Coriolano, de William Shakespeare, direção de Celso Nunes, em 1974.

Seguem-se novas produções bem-sucedidas: Dr. Knock, de Jules Romains, 1974; Equus, de Peter Shaffer, 1975, ambas novamente dirigidas por Celso Nunes; e recebe o Prêmio Mambembe de melhor ator em A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, encenação de Flávio Rangel, 1977. Com Eva Wilma protagoniza Pato com Laranja, de William Douglas Home, trazendo Adolfo Celi da Itália para um retorno ao Brasil, em 1979, um dos maiores sucessos de sua carreira. Em 1982, está em Traições, do dramaturgo Harold Pinter, com direção de José Possi Neto, levando o Prêmio Molière de melhor ator, e em 1983, dirige A Amante Inglesa, um rebuscado texto de Marguerite Duras. Num mesmo programa apresenta alternadamente, em 1985, Tartufo, de Molière, e Feliz Páscoa, de Jean Poiret, mais uma direção de José Possi Neto.

Ator na plenitude


Tributo, de Bernard Slade, é a criação de 1987. Com o Grupo TAPA integra o elenco de Solness, o Construtor, de Henrik Ibsen, direção de Eduardo Tolentino de Araújo, em 1988, mesmo ano em que atua em Quadrante, texto e direção do próprio Autran, peça que permanece apresentando por muito tempo. No ano seguinte, participa de outra montagem com jovens, A Vida de Galileu, de Bertolt Brecht, direção de Celso Nunes. Também em 1989, recebe o Prêmio Apetesp especial por seus 40 anos de profissão. Em 1991 atua e dirige em Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi Pirandello. Em 1993, está como ator em O Céu Tem que Esperar, de Paul Osborn, direção de Cecil Thiré; e, em 1994, atua em A Tempestade, de Shakespeare, direção de Paulo de Moraes, realizada em Londrina. Um ano depois, volta ao boulevard com As Regras do Jogo, de Noel Coward, e a Shakespeare, com Rei Lear, dirigido por Ulysses Cruz, em 1996. Para Sempre, de Maria Adelaide Amaral, 1997; e O Crime do Dr. Alvarenga, texto e direção de Mauro Rasi, são seus últimos trabalhos nos anos 1990. Em 2000, monta um grande sucesso, Visitando o Sr. Green, de Jeff Baron, dirigido por Elias Andreato, que lhe rende os prêmios Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), e Shell de melhor ator de teatro.

Autran, símbolo do teatro


Segundo o crítico Yan Michalski: "Paulo Autran é uma das raras personalidades-símbolos do teatro brasileiro. Este gentleman construiu, ao longo de 40 anos de teatro profissional, uma carreira admiravelmente digna, na qual tanto o público como os colegas sabem vislumbrar um exemplo merecedor de incondicional respeito. Este protagonista nato nunca se deixou sensibilizar pelo canto de sereia do estrelismo. Tampouco caiu nas armadilhas do modismo, definindo sempre a sua carreira por um critério pessoal, aberto mas inflexível e exigente, da qualidade: faz com o mesmo entusiasmo e a mesma competência um grande clássico, uma comédia ligeira ou um texto marcado pelo conceito da modernidade, contanto que identifique nele valores literários, teatrais, intelectuais, sociais ou humanos que mereçam o seu engajamento, e que a construção do papel se constitua para ele num desafio e numa alegria. E seria difícil citar um outro ator tão completo a ponto de responder a qualquer tipo de desafio interpretativo com a mesma amplitude e adequação de recursos. [...] Culto, discreto, elegante em cena como fora dela, exaltado por todos os que com ele trabalham como um colega exemplar, Paulo Autran talvez possa ser adequadamente definido como um ator visceralmente e em todos os sentidos, civilizado".1