Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Plínio Marcos, homem de fé

Plínio / 97 RELIGIOSIDADE E TARÔ


[Em 1985, escreveu no programa da peça Madame Blavatsky, a respeito de seu interesse por temas místicos:] “Sou um homem à procura da religiosidade. Dispensa-me dos rótulos, por favor, e eu te explico que a religiosidade nada tem a ver com seitas, igrejas, grupelhos carolas, fanáticos acorrentados a dogmas e superstições. A religiosidade nada tem de alienação, conformismo ou adaptação a um sistema político-social-econômico injusto. Aliás, a religiosidade é altamente subversiva. A religiosidade leva o homem ao autoconhecimento. E o autoconhecimento leva o homem à subversão.” “Eu mudei no sentido de que sempre acreditei que o homem desperto tem o dever de ser mutante. Como espero continuar sempre mudando. Mas, os valores que dignificam o homem e que eu preservava, esses permanecem. Continuo, com a graça de Deus, com a coragem de dizer o que penso, sem fazer nenhum esforço para agradar aos poderosos, aos grupos políticos ou religiosos.” “Tento chocar. Com muito vigor. Não faço isso por política. Faço isso por religiosidade.


Mesmo considerando que toda atitude do homem é política. A política é sempre a luta pelo poder. Todo o esforço dos políticos é no sentido do poder. Já o homem com religiosidade, o homem que tem o autoconhecimento, não deseja o poder, nem se submete ao poder. Portanto, rasga a regra, rompe a estrutura, arrebenta elos da cadeia. Subverte.”
[A rigor, portanto, não se pode falar de sua conversão espiritual, pois suas peças sempre foram carregadas de religiosidade.] “Dom Hélder Câmara, depois do espetáculo a que assistiu no Recife, fez questão de declarar para a imprensa que a peça [Dois Perdidos Numa Noite Suja], devido à sua religiosidade, valia por vários sermões e até missas. E o padre Êdnio Vale, declarou numa entrevista: ... peça de tema profundamente religioso, mesmo que não tenha sido essa a intenção do autor.” “A verdade é que a maioria das pessoas se ligava em outros valores para gostar ou não das peças. Então, eu tentei fazer um teatro com a religiosidade exposta com maior clareza. Escrevi Dia Virá, uma peça sobre o Senhor Jesus Cristo, com as meninas do colégio Des Oiseaux, um colégio de freiras.” “ Escrevi Balbina de Iansã, sobre o candomblé.” “Depois, fiz também Jesus-Homem [segunda versão de Dia Virá], com debates todas as noites depois do espetáculo, com pessoas de todas as crenças.” “E agora vamos com a Blavatsky.”
[Em 1970, quando escreveu Balbina de Iansã, esteve envolvido com candomblé e umbanda. Mesmo antes, já se interessava por esses temas, tendo escrito uma peça sobre a vida dos orixás para o TV de Vanguarda, da TV Tupi.]
[A partir do final da década de 70, passa a se interessar efetivamente por esoterismo, lendo livros sobre magnetismo, cura através dos metais, das cores, do-in – e Tarô. Estudou os pontos de energia da Medicina Chinesa e, como possuía forte poder mental, passou a usá-lo para energizar as pessoas, para fazer massagens, aliviar dores. Com o tempo, acabou criando um método próprio de leitura de Tarô, que aliava ao seu poder de magnetização.]
“O Tarô eu aprendi naquele tempo de circo, e fui trabalhando com ele, trabalhando, trabalhando, até que de uns anos pra cá [1997], passei a ser profissional, a viver disso. E comecei a arrumar clientes, essa coisa toda, a brincar, porque o meu negócio sempre foi brincar.” “O Tarô é uma arte subversiva.” “O que o Tarô faz mesmo é ajudar no autoconhecimento.” “Com magnetismo a gente até cura. Tem um lado espiritual e outras coisas, cura mesmo. Eu atendi muitos casos de câncer. É que não vai curar mais porque está num estado terminal, mas eu tirava a dor mesmo.” “Mas isso não é um poder. É bioenergética. É uma ciência que você estuda, aprende e faz. Isso é o que estamos fazendo. Agora, o cara entende como quiser, se ele pensa que a gente é mestre, médium...”
[No começo da década de 90, criou um curso: O Uso Mágico da Palavra. E dava oficinas em vários lugares, continuando com sua tradição de mambembeiro e camelô, porque nunca deixou de vender seus livros.]
“Tem gente que me criticou por entrar nessa linha mística. Mas, catzo, eu não dou espaço para as pessoas me fazerem cobrança, porra. Eu em nenhum momento estive à venda, e sempre defendi o direito de ser livre, e sempre fui.”

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