Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O ABAJUR LILÁS

“Uma noite, [1975] entrei no Gigeto e o Samuel Wainer me apresentou o Américo Marques da Costa, que viria a ser uma das pessoas mais lúcidas e mais amigas que conheci. Ele queria botar grana numa peça minha.”... “Meti a mão na sacola e tirei de lá O Abajur Lilás.”
[A peça O Abajur Lilás foi escrita em 1969, e no mesmo ano Paulo Goulart começou a produção do espetáculo, com ele mesmo dirigindo, e Nicete Bruno e Walderez de Barros no elenco. Após uma consulta informal à Censura, veio a resposta negativa. Os ensaios foram interrompidos. E, em 1970, o texto foi proibido por cinco anos para todo o território nacional. Em 1975, portanto, o texto estaria liberado.]

1º dia de ensaio

“Começaram os ensaios. Com o Antônio Abujamra no comando. Um dos maiores diretores de todos os tempos. Com Lima Duarte, Walderez de Barros, Cacilda Lanuza, Ariclê Perez. E o Túlio de Lemos de assistente de direção. Eu sabia, e o Américo também sabia, que tudo corria bem. E veio afinal o dia do ensaio para a censura. Eles nos obrigaram a fazer o espetáculo como ia ser na estréia para público. Cenário, figurino, iluminação. Desconfiávamos que era armação das piranhas da censura pra atingirem economicamente a produção. E era. Esse espetáculo pra censura eu assisti. Escondido, porque era proibida a presença de qualquer pessoa, mesmo o autor. E era belo. Belíssimo. Mas... proibiram. Só quem passou por isso pode dizer como é uma sensação de frustração. Precisa uma fibra imensa pra aguentar um troço desse.”
[No dizer de Ilka Maria Zanotto, “As circunstâncias fizeram de O Abajur Lilás mais do que uma simples peça, uma bandeira.” A classe teatral organizou várias manifestações de protesto contra a censura da peça, e grande parte das companhias teatrais não trabalhou, na quinta-feira, dia 15 de maio de 1975, data da proibição da peça. E durante as semanas seguintes, era lido um manifesto contra a censura, em todos os teatros, antes do início dos espetáculos. O advogado Iberê Bandeira de Melo, amigo de infância de Plínio Marcos, entrou com um recurso contra a Censura. O próprio Ministro da Justiça, Armando Falcão, reiterou a proibição da peça, sob a alegação de que ela atentava contra a moral e os bons costumes. O Dr. Iberê e Plínio Marcos continuaram com a luta e foram, de instância em instância, até chegarem ao Supremo Tribunal Federal.]
“Perdemos em todos os lances. Perdemos. Com um, apenas um voto favorável. Havia um homem honrado entre os juízes. O Dr. Jarbas Nobre. Perdemos. Mas, era uma vitória.” “Eu voltei de Brasília certo de que tinha enchido o saco dos donos do poder. Cumpri com grandeza o meu papel.” “Ai, eu me organizei pro pior. E o pior veio. Muito pior do que eu imaginava: na base do maldito ninguém-me-procura. Mas, eu era mais eu. Editava meus livros, na base do crédito naturalmente. E saia vendendo. E ia tocando a catraia contra a maré.”

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