“Então, escrevi Dois Perdidos numa Noite Suja para eu mesmo representar. Ator pequeno, sem nome, sem carreira, sem nada, trabalhando de técnico na Televisão Tupi, ninguém convidava pra nada. Ninguém se lembrava que eu era também ator. Então escrevi uma peça com papel pra mim.” “Uma peça de dois personagens, inspirada num conto do Moravia, O Terror de Roma. Peguei o Ademir Rocha, que também estava desempregado, e chamei o Benjamin Cattan pra dirigir. E, como não tínhamos local, fomos estrear no Ponto de Encontro, um bar na Galeria Metrópole, que o Emílio Fontana conseguiu pra nós. |
A Nídia Lycia, que é muito minha amiga, foi quem me emprestou os cinqüenta mil-réis pra montar a peça. O Bucka, outro amigão, outro dinheirinho.” “O pessoal da técnica da Tupi ajudou a gente a afanar refletores, os praticáveis, as camas e tudo aquilo de que precisávamos para o cenário. O transporte foi feito pelo pessoal da garagem.” “O Toninho Matos e o Paulinho Ubiratan (depois diretor da Globo) operavam luz e som.”
“Cinco pessoas foram assistir à estréia: a Walderez, o Carlos Murtinho, a mulher do Ademir, um bêbado, que não quis sair porque aquilo lá era um bar, e o Roberto Freire. Aí, o Roberto Freire começou a fazer uma onda em torno, dizendo que a peça era muito boa, e outra vez voltei a ser notícia como autor teatral. O Alberto D´Aversa escreveu cinco artigos sobre a peça. Fiquei na moda. A Cacilda Becker, quando viu a peça, comentou: Incrível! Você conhece dez palavras e dez palavrões, e escreveu uma peça genial. E várias peças minhas piaram na parada: Navalha na Carne, Quando as Máquinas Param, Homens de Papel.”
“Dois Perdidos foi liberada porque naqueles dias a Censura passou da Polícia Estadual para Federal. E mudaram os censores. Mandaram o Coelho Neto assistir ao ensaio. Homem de teatro, diretor de peças. Foi da comissão julgadora do Festival de Santos, quando a Barrela se consagrou.” “Numa tarde de sábado, chuvosa e fria, num estúdio abandonado da Tupi, sem cenário, eu e o Ademir, sentados em bancos velhos, falamos o texto pra ele. Quando acabamos, ele liberou o texto sem cortes.”
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