Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Plínio Marcos e Cacilda Becker

COMEÇO EM SÃO PAULO


“Vim pra São Paulo de vez em 1960. Aqui, a primeira viração foi vender coisas de contrabando. Eu ia buscar em Santos e vendia aqui: cigarros americanos, rádio de pilha, esses troços. Fiquei um tempão trabalhando de camelô. Pegava no Largo do Café e vendia na esquina. Álbum de figurinha também. Depois, vi o pessoal do Teatro de Arena, porque eu parava no Bar Redondo. Entrei na Companhia da Jane Hegenberg, no lugar do Milton Bacarelli, montamos um espetáculo que foi um desastre (O Fim da Humanidade). Fiz teatro infantil.” “Foi anunciado um teste para a Companhia Cacilda Becker, um teste de atores para a peça César e Cleópatra, que o Ziembinsky ia dirigir. Fui lá, fui aprovado. Fazia várias pontas: carregador de tapete, guarda egípcio, umas dez coisas. E foi um dos maiores fracassos da Cacilda. Ficamos muito, muito amigos mesmo. Eu trabalhava em duas peças ao mesmo tempo: fazia o primeiro ato de César e Clópatra, na Companhia da Cacilda, e entrava em O Noviço, no Teatro de Arena, no último ato.”

Plínio e Walderez  de Barros ONDE CANTA O SABIÁ

“Depois, [1963] a Cacilda e o Walmor me deram uma colher de chá e fiz o Juca Afogado na peça O Santo Milagroso, do meu camaradinha Lauro César Muniz. Daí veio Onde Canta o Sabiá, e eu fui para o vinagre. A crítica me malhou bem. Peguei meu boné e fui cantar em outra freguesia.”
“Nunca tive esse negócio de ser de um grupo, trabalhava onde me deixavam. Como ator, como administrador, como qualquer coisa. Eu tinha que trabalhar, viver de uma profissão, e a minha profissão era essa – teatro.”
Em 1965, “com um belo time que estava começando a carreira, fomos fazer Reportagem de um Tempo Mau, no Teatro de Arena. E a Censura proibiu. Era minha primeira peça em São Paulo. Que merda. Mais anos e anos de espera. Resolvemos pelo menos fazer uma sessão clandestina pro pessoal de teatro ver nosso trabalho.”
“Continuei na luta brava. De manhã, vendia álbum de figurinha na feira, de tarde trabalhava na técnica da Tupi e à noite fazia uns bicos como administrador do Arena.” [Já escrevia também, desde 1963, para o programa TV de Vanguarda, da Televisão Tupi, SP.] “Quando acabou o Arena Conta Bahia, no Arena, fui trabalhar como administrador na Companhia Nídia Lycia.” “Aproveitei então para organizar minha nova peça, Jornada de um Imbecil até o Entendimento. Fomos à luta. Ensaiamos muito, mas – porra! – veio a censura. Mais uma vez uma peça minha era proibida. Depois de tanto trabalho, tanto esforço. Mas, era preciso continuar a luta.”
“Ser impedido de trabalhar, de ganhar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto é terrível. Você tem a sensação de que é um exilado no seu próprio país. Eu sei bem como é isso. Penei. Penei muito. A minha sorte é que nunca cortei os laços com as minhas raízes. Fui camelô. Voltei pra rua pra camelar. Não caí. Não bebi. Não chorei. Nem perdi o bom-humor. Mas, sofri mais do que a mãe do porco-espinho na hora do parto, impedido de trabalhar. E ignorado por colegas, que se diziam de esquerda, nas rádios e nas televisões. Mas, deixa pra lá. Essa sujeira sai no mijo, não tenho mágoas.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário