Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Show de Plínio Marcos

[A partir da década de 80, intensifica uma atividade que já vinha exercendo: fazer debates e palestras em faculdades e universidades, teatros, clubes e, até, em praça pública, não só na cidade de São Paulo, mas em inúmeras cidades do interior do mesmo Estado e do Brasil todo.]
“No ano passado fiz 150 cidades. Este ano [julho/1980], já fiz 58. Acho que é muito mais importante você transmitir pessoalmente a sua experiência para o povo do que passar tudo somente através da arte. Eu sou povo, e com ele me sinto em casa.”
“Eu era proibido em todos os ofícios que tinha – cronista esportivo, cronista de carnaval, trabalhar na televisão. Mas, batalhei e voltei às minhas origens. Camelô, vender meus livros na rua para sobreviver.” “Quando tem palestra, aí é melhor, porque camelô que fala vende mais.” “Sou um camelô da literatura. Hoje [1986] posso dizer que é muito difícil ainda. É difícil ter espaço nos jornais, encontrar lugar para vender livro. Cheguei a ser expulso de vários lugares. É uma brutalidade única.” “Eu nunca fui um escritor profissional, morreria de fome se fosse viver dos meus livros.

Show/Palestra

Teria que acabar fazendo milhares de concessões. Mas, camelô, ah!, isso eu sou bom. Vendo meus livros, dou autógrafos e prometo morrer logo para valorizar. Eu sou um escritor imortal, não da Academia Brasileira de Letras, mas porque não tenho onde cair morto.”
[Nos debates com estudantes], “eles esperam, como todo mundo espera, que apareça um guru, um pai, um líder. Não que seja como eu, um cego, mas que aponte caminho. Eles ficam muito putos da vida quando eu vou, porque eles vão esperando que eu cague regras e eu não, só destruo as ilusões. Agora, eu faço questão de dizer para eles que, quando eu passo por ali, eles não vão saber se é para gostar ou não de mim. Uma coisa eles têm de saber. Eu estou correndo risco por causa da palavra.”
[Em 1984, estréia um espetáculo-solo no Teatro Eugênio Kusnet (ex-Arena): O Palhaço Repete seu Discurso, com o qual também se apresentaria em inúmeras cidades.] “Neste show-palestra (ou palestra-show), o Palhaço é um instigador, que com seu humor grosso e maldito das quebradas do mundaréu vai desfilando casos que comprovam a absurda rotina que os homens sérios, empolados de responsáveis, estão levando, sem nenhuma participação na própria história, sem nenhuma influência no próprio destino. O Palhaço, marginalizado por não aceitar as regras do jogo dos homens enquadrados, não se afasta da sociedade. Permanece nas proximidades dos cidadãos contribuintes, destruindo seus valores, ridicularizando-os com seu humor grosso, chocando-os com sua linguagem livre, instigando-os para a tomada de consciência, na esperança de despertá-los para a vida. Ah, existe tanto amor nesse maldito Palhaço...”
[Por muitos anos continuou fazendo palestras-shows para estudantes, muitas vezes acompanhado de seu filho Léo Lama, como num espetáculo que fizeram, em 1993: 40 Anos de Luta.]

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