Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Plínio Marcos e O Bando



O Bando O BANDO


“Nos meados de outubro de 1979, um grupo de atores se juntou para, clandestinamente, montar Barrela, que completava 20 anos de proibição pela censura. A peça estreou em dezembro, no porão do TBC [Teatro Brasileiro de Comédias, SP], gentilmente cedido por Antônio Abujamra, diretor do TBC na época. Os ingressos eram vendidos pelo próprio elenco que, nas ruas, os ofereciam para as pessoas. Todas as sessões, que eram realizadas às sextas-feiras, à meia-noite, lotaram. Um êxito.”


·Em 1980, as peças Barrela e O Abajur Lilás foram liberadas pela Censura Federal. E O BANDO [nome dado ao grupo de artistas que se juntou em torno de Barrela] prosseguiu na luta. Barrela faz um retumbante sucesso de crítica e de público.· ·Vinte e um anos depois de ter sido escrita, essa peça-reportagem lamentavalmente ainda vale. Retratava a realidade dos presídios há vinte e um anos, e ainda tem validade. Uma pena. Pena, porque os méritos não cabem à peça. É tudo culpa do país, que não evoluiu socialmente. E, se continuarmos desse jeito, essa peça vira um clássico.·
[O BANDO transfere-se para o Teatro Taib, SP, e monta, em seguida,
Dois Perdidos Numa Noite Suja, Oração para um Pé-de-Chinelo e Jesus-Homem.] “E todas as manhãs, os atores e os compositores do espetáculo saem às ruas distribuindo papeizinhos (filipetas) para o espetáculo da noite. Nessa batalha, houve muitos pererecos, pois logo a rapaziada percebeu que, em São Paulo, distribuidor de bônus teatral é mais perseguido do que vendedor de maconha em porta de colégio.”
“É preciso tirar o homem comum da casa dele. É preciso inquietá-lo. O BANDO acha isso. E acredita que é necessário montar peças que retratem a realidade brasileira com toda crueza. Mas, será que o homem comum vai sair de casa para ver e escutar coisas duras? Então, antes da peça, arma-se um show de música popular brasileira, com compositores excelentes. O homem comum não lê jornais, não fica sabendo dos espetáculos. Então, suprime-se o anúncio dos jornais e se vai para a rua distribuir bônus de mão em mão. Mas, o homem comum não pode pagar o preço do ingresso. Então se aluga um teatro grande e se cobra ingresso bem barato. Mas, o homem comum precisa reaprender a converrsar. Nós também. Toda a nação brasileira precisa reaprender a conversar, depois de dezesseis anos de obscurantismo. Vamos tentar reaprender. Trocar idéias, sem querer impor posições. Faremos debates ao final de cada espetáculo. Tudo pronto. Belo espetáculo esse de O BANDO. Bônus nas ruas. Casa cheia. Debates concorridos. E aí baixa a repressão. Bônus, papeletas, panfleto não pode. Suja a cidade. Popularizar o teatro não pode? Tem que poder.”
[O Secretário de Cultura do Município de São Paulo autoriza a distribuição, mas O BANDO continuou tendo dificuldades com a polícia nas ruas. Apesar disso, a experiência foi um sucesso, pois somente
Barrela foi assistida por mais de 60.000 pessoas. Mesmo adotando o princípio de dispensar qualquer verba governamental e trabalhando com a redução do preço do ingresso, O BANDO se manteve por mais de um ano, graças a esse trabalho de divulgação dos espetáculos nas ruas e ao sistema de cooperativa integralmente adotado pelos artistas, o que valeu a Plínio Marcos o Prêmio Mambembe de melhor produtor, pela eficiente forma de produção adotada.]

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