Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Fuga nos livros

“Eu fui escrever literatura porque a censura não estava liberando nenhuma peça minha. O Querô ia ser mais uma peça de teatro. [Uma Reportagem Maldita – Querô, publicado em 1976, ganhou o Prêmio APCA de melhor romance desse ano.] Só escrevi em forma de romance porque não achei que iria passar na censura. Tanto é que ele está adaptado para teatro. Dentro da Noite, outra novela para televisão, também foi proibida. Nas Quebradas do Mundaréu é conseqüência das historietas que escrevi na Última Hora. Virou um livro.”
[Desde 1968, tinha uma coluna diária no jornal Última Hora, SP, no qual trabalhou até 1978, não ininterruptamente. Assinou também uma coluna nos jornais Diário da Noite, Folha de SP, Movimento, Diário Popular, Jornal da Orla, entre outros; escreveu crônicas sobre futebol na revista Veja (1975/76), além de colaborações para outros jornais e revistas. Escrevia contos, reportagens, entrevistas, crônicas sobre vários assuntos.]

Autografando

“E o Inútil Pranto, Inútil Canto para os Anjos Caídos são contos.” [Escreveu ainda outro conto, O Assassinato do Anão do Caralho Grande, que também adaptou para teatro. Publicou ainda outros livros de pequenos contos ou relatos autobiográficos: Prisioneiro de uma Canção, Canções e Reflexões de um Palhaço, Figurinha Difícil, O Truque dos Espelhos.]
“A Barra do Catimbó, que é outro romance meu, também foi proibido como novela de televisão.” [Começou a escrever histórias da Barra do Catimbó em jornal, antes de lhes dar a forma de romance.] “Pra evitar esculacho, criei a Barra do Catimbó, onde passei a fazer acontecer todos os salseiros. E, aos poucos, me apaixonei pela Barra do Catimbó. Fui criando personagens que, de início, eram baseados nos tipos que conheci na minha cidade querida, mas que, aos poucos, foram crescendo, ganhando características próprias e, acreditem ou não, se formavam sozinhos, indiferentes à minha influência. Mestre Zagaia e os ensinamentos da sua Tabuada das Candongas, colhidos nos estreitos, esquisitos e escamosos caminhos do roçado do bom Deus. Nega Bina Calcanhar de Frigideira, que no começo era só mulher do crioulo Catimbó, fundador da Barra, e que ganhou importância quando mataram seu marido. Oscarino Vaselina, eterno candidato a vereador, Seu Olegário, Seu Azulão, Mané Cheiro de Peixe, Mãe Begum de Obá, Chupim, Pé de Bicho, Intrujão Guegué, Bolinha do Mobral, Dona Cotinha Fofoqueira, Quim Ilhéu, Azevedo do Apito, Valdo Camelô, Catulé Sambista, e tantos outros.” “Eu os amo por serem frágeis diante dos duros combates do dia-a-dia, mas que não se rendem nunca. Porém (e sempre tem um porém), o que quero dizer e o que pesa na balança é que já pensei, e penso muito, chego a ser atormentado por essas figuras, em meter tudo isso no palco de um teatro.” [O que, infelizmente, nunca chegou a fazer.]
“Não tem tu, vai tu mesmo. Era assim. Eu ia vendendo meus livros nas ruas, feiras de livros, nas portas dos teatros, nos restaurantes Gigeto, Giovani Bruno, Orvieto, Piolim. Um pouco aqui, um pouco ali. Batendo papo, contando histórias e faturando uma grana. Sabe, não é fácil vender livros em terra de analfabeto com fome. A maioria das pessoas reconhecia que aquilo era uma forma de resistência. Uma parada dura. Mas, eu não me acanhava. Não me queixava. Conheço bem a lei do choque do retorno: Quem planta vento colhe tempestade. E eu incomodava mesmo. Era perseguido, mas fiz por merecer. Eu encarava todas do jeito que viessem. Às vezes, apareciam uns e outros querendo me humilhar. Era péssima viagem. Eu pegava bem. Dava duro.”

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