Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Aplausos e lágrimas para Dulcina












Texto de Carla Spegiorin/Fotos de Edu Barroso
O primeiro encontro do projeto Mitos do Teatro Brasileiro, realizado nesta quarta (26/05) no Centro Cultural Banco do Brasil, homenageou a figura mais importante do teatro brasiliense: Dulcina de Moraes

Uma década de meia sem Dulcina de Moraes (1908 - 1996) e ontem ela parecia viva e presente ao encontro que a homenageou no Centro Cultural Branco do Brasil Brasília. Patrocinado e apresentado pelo Banco do Brasil, o projeto Mitos do Teatro Brasileiro sustenta-se na pesquisa e na história para erguer no palco um século de teatro, a partir de seis artífices das artes cênicas nacionais começando por Dulcina de Moraes. As atrizes Nicete Bruno e François Forton não seguraram as lágrimas, assim como grande parte da plateia, que esteve presente para ouvir histórias da grande dama do teatro brasilense e uma das figuras mais importantes do teatro nacional.

Nicete soltou a voz e dispensou o uso de microfone para falar da dama. A atriz contou que começou a carreira de artística, aos 17 anos, em um teste com Dulcina e narrou como a atriz abdicou da carreira em ascensão para vir a Brasília construir a Fundação Brasileira de Teatro (FTB). Nicete revelou que, à época, a companhia teatral de Dulcina/Odilon era a mais respeitada, pois a atriz pregava que todos na equipe deviam ser respeitados – do iluminador à grande estrela do espetáculo. “Ela deixou o estrelato no Rio para vir batalhar pelo teatro no Brasil nesta cidade que hoje tão solenemente a homenageia”, contou Nicete, muito emocionada e sem esconder as lágrimas.

Forton, por sua vez, foi aluna de Dulcina e se graduou na primeira turma da Faculdade que hoje leva o seu nome, contou que Dulcina era uma mulher única no palco. “Certa vez em uma aula ela leu um texto com 32 personagens encenou cada um deles de maneira genial”, revelou a atriz que viveu parte de sua infância e juventude na capital da república.

Ao intercalar mediação cênica feita pelos atores brasilienses Jones Schneider e Luciana Martuchelli e as falas das atrizes convidadas, o público interagia com o elenco. Ali, nas barbas do palco, uma presença era notada e citada durante todo o encontro: Bê de Paiva, que foi amigo de Dulcina e é considerado uma lenda viva dos tablados, deu uma bela aula sobre o teatro brasileiro, evocando personalidades como Procópio Ferreira, Sérgio Britto, Nelson Rodriques e até JK. “Dulcina aboliu o ponto, acabou com a minha profissão, revolucionou o modo de fazer teatro no Brasil e era uma pessoa espetacular porque tratava todos de maneira igual”, falou Bê com voz embargada em alto e bom som, seguindo Nicete que, no início, havia abolido o microfone, colocando em prática a lição que aprendera com Dulcina. A plateia altern ou momentos de risadas e lágrimas praticamente o tempo todo. “Foi uma grande aula sobre parte da história do teatro nacional”, disse a atriz Sandra Cury, ex-aluna da Faculdade Dulcina de Moraes.

Diferencial do projeto, a mediação cênica foi toda sustentada por textos inéditos desenvolvidos pelo dramaturgo, jornalista e crítico de teatro Sérgio Maggio (Cabaré das Donzelas Inocentes). Para Maggio, Dulcina construiu um lugar sagrado na história do teatro brasileiro. No entanto, hoje, por motivos quase inexplicáveis no processo de formação da memória da cultura nacional, é um dos nomes que as novas gerações sequer ouviram falar.

A escolha de Dulcina de Moraes para abrir o projeto foi, também, uma homenagem do Centro Cultural Banco do Brasil aos 50 anos de Brasília. A atriz, diretora, empresária e educadora foi contagiada pelo sonho de criar a capital no centro do país e trouxe a Fundação Brasileira de Teatro para a cidade. Hoje, a instituição é patrimônio cultural do DF. “Fui aluno da FBT e sei o quanto custou o sonho para Dulcina de Moraes, que vendeu todo o patrimônio e morreu pobre para levar avante a missão de disseminar o estudo do teatro no ensino superior. É tudo muito especial. Na noite da minha formatura, Dulcina de Moraes morreu. Coube a mim conduzir a última homenagem”, lembra Jones Schneider.

O projeto Mitos do Teatro Brasileiro segue, uma vez por mês, até outubro homenageando Dercy Gonçalves (30 de junho com Carmem Verônica e Irís Bruzzi), Procópio Ferreira (28 de julho com Jorge Loredo e Bemvindo Sequeira), Nelson Rodrigues (18 de agosto com Bárbara Heliodora e Beth Goulart), Cacilda Becker (22 de setembro com Maria Thereza Vargas e Leona Cavalli) e Sergio Britto (20 de outubro com Sergio Britto). Fe cha assim o ciclo de um século de teatro. “A partir dessas grandes biografias, vamos traçar essa saga fantástica que é a construção do teatro brasi leiro, hoje um dos mais respeitados no mundo pela diversidade e identidade com os problemas nacionais”, acrescenta Sérgio Maggio.



· Acompanhe a pesquisa do projeto no blog mitosdoteatrobrasileiro.blogspot.com e siga-o no Twitter @mitosdoteatro e @cccbb_df

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