DINA SFAT - MAGNETISMO E SEDUÇÃO
Dina Sfat foi uma das maiores atrizes brasileiras que teve o teatro, cinema e televisão. Dona de uma interpretação singular, com fortes emoções à flor da pele, dosadas por uma construção de texto numa voz inteligente, um olhar magnético e forte sedução na presença física tanto no palco, como através das lentes do cinema ou da televisão.
Falar de Dina Sfat traz sempre uma dor movida pela saudade. Seu magnetismo pessoal torna-a inesquecível, seu talento profissional fez dela uma das atrizes mais amadas e cultuadas pelo grande público e pela crítica. Viveu a maior parte da sua juventude e início da maturidade sob a mão pesada da ditadura militar, a qual combateu energicamente, sempre apoiando a esquerda perseguida na época, sem jamais se filiar a qualquer partido ou tendência.
Figura inquieta e polêmica, Dina Sfat sempre teve a coragem de dizer o que pensava e sustentar a sua visão de mundo e de Brasil, mesmo quando não agradava às correntes sociais ou ideológicas. Na sua vida particular era discreta, não se deixando levar pelos escândalos amorosos e pelo sensacionalismo dos holofotes da mídia. Foi casada 17 anos com o ator Paulo José, com quem teve três filhas: Bel Kutner, Ana e Clara.
Dina Sfat pertence à geração de atrizes que surgiu com o teatro engajado do início dos anos sessenta, que depois conquistou a televisão quando esta se firmou como veículo cultural no Brasil. Tornou-se a atriz preferida da mítica autora Janete Clair, e uma das mais requisitadas por Dias Gomes. Jamais se furtou a fazer papéis diferentes, rompendo com a tradição maniqueísta das heroínas das telenovelas, interpretando vilãs, prostitutas, mulheres sofredoras, todas centradas no seu jeito agudo e inteligente de ser e transmitir a sua arte.
Dina Sfat trazia uma beleza misteriosa, moldada a partir da personalidade. Olhos grandes, que portavam um olhar que penetrava na alma dos que se lhe pusesse na frente e do público, que por ela se deixava fascinar.
Infelizmente Dina Sfat partiu muito cedo, no auge da sua essência de mulher que se abria para a maturidade da vida. Em um país de pouca memória, deixou um legado rico e pronto para ser sempre redescoberto. Aos 50 anos de idade, Dina Sfat atravessou os palcos além das cortinas da vida, entrando para a galeria dos mitos do Brasil, sendo uma das mais carismática e talentosa atriz que já tivemos. Levou consigo a sua voz penetrante, a sua inquietude diante da vida, deixando-nos presos a uma saudade latente de uma grande mulher. Dina Sfat, com os seus olhos grandes e infinitos, seduz hoje os palcos do céu, os anjos da arte!
A Estréia no Teatro na Década de 1960
Dina Kutner de Souza nasceu em São Paulo, em 28 de outubro de 1938. Filha de imigrantes judeus poloneses, ninguém poderia imaginar que aquela menina aos 16 anos, quando começou a trabalhar em um laboratório de análises, tornar-se-ia uma das mais importantes atrizes brasileiras do século XX.
Sua estréia oficial seria na peça “A Rainha e os Rebeldes”, em São Paulo, em 1957, sob a direção de Maurice Francini. Profissionalizou-se a partir da peça “Antígone América”, em 1960, sob a direção de Antônio Abujamra. Depois do espetáculo, voltou ao amadorismo teatral, fazendo parte de um grupo estudantil do centro acadêmico da faculdade de engenharia da Universidade Mackenzie. No grupo fez, em 1962, duas peças de Bertolt Brecht: “Aquele Que Diz Sim, Aquele Que Diz Não”, sob a direção de Antônio Ghigonetto e “Os Fuzis da Senhora Carrar”, sob a direção de Emílio Di Biasi.
Desde sempre, Dina Sfat descobrira o talento para as artes, sonhando sempre em ser uma atriz. Em 1962 entrou em contacto com o histórico Teatro de Arena. Foi chamada, em 1963, para integrar o elenco da peça “O Melhor Juiz, o Rei”, de Lope de Vega, sob a direção de Augusto Boal. Muito jovem, e para evitar a exposição da família, a atriz mudou o nome Kutner para Sfat, uma homenagem à cidade natal da sua mãe. Nascia oficialmente, a atriz Dina Sfat.
Do Teatro Engajado à Luta Contra a Ditadura Militar
No Teatro de Arena, integraria o elenco de peças famosas dos anos 1960, como “Tartufo” (1964), de Molière; “Arena Conta Zumbi” (1965), musical de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, que lhe renderia o Prêmio Governador do Estado de São Paulo como melhor atriz. Ainda sob a direção de Augusto Boal, faria “O Inspetor Geral” (1966), de Nikolai Gogol; e, “Arena Conta Tiradentes” (1967), de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal.
Em 1967, Dina Sfat aceitaria um grande desafio, substituir a atriz Ítala Nandi no elenco da peça “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, encenada para o mítico Teatro Oficina, por José Celso Martinez Corrêa. Com esta peça, a atriz conquistaria não só o público paulistano, como a crítica do Rio de Janeiro.
No cenário político, o Brasil entrava para a fase mais obscura da sua história, quando os militares tomaram o poder através de um golpe de estado, em 1964.
As intervenções do Teatro de Arena e do Teatro Oficina, foram fundamentais para que não se calasse o artista, atuando sob o julgo da ditadura. É o chamado teatro engajado e politizado daquela década conturbada. Dina Sfat foi uma das atrizes do grupo que foi veemente em expressar as reivindicações pela liberdade e contra a opressão do regime. Sua inquietação diante da vida fez com que não abandonasse jamais a luta pela redemocratização do país enquanto a ditadura militar estivesse no poder; sua coerência inteligente, fez com que não se associasse a partido de esquerda algum, apesar de assumir as suas bandeiras publicamente.
Já nos anos 1980, quando a ditadura dava os seus últimos suspiros, Dina Sfat, então grande ícone da dramaturgia brasileira, ousava a dizer em público, a um poderoso militar, que tinha medo deles. Era uma afronta corajosa à truculência de um governo ilegítimo. Em 1984, chegou a anunciar que sairia candidata ao cargo de vice-presidente do Brasil pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), uma verdadeira declaração provocativa, visto que a sigla estava na clandestinidade, fazendo parte da chamada frente democrática do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Mesmo sendo vista pelos militares como líder feminista ligada à extrema esquerda, Dina Sfat jamais se filiou a qualquer sigla ou facção partidária. Foi uma mulher que soube observar o seu tempo e lutar contra a opressão, visando sempre a liberdade de um mundo melhor. Viveria poucos anos para ver os frutos da sua luta quando a democracia floresceu novamente no país, com o fim do regime militar em 1985.
A Atriz no Cinema
Já no inicio da carreira, Dina Sfat revelou o seu grande talento para atuar diante das câmeras. Marcou a sua estréia no cinema, em 1966, no filme “O Corpo Ardente”, de Walter Hugo Khouri.
Em 1969, Dina Sfat viveu com grande destaque e talento, a guerrilheira Cy, de “Macunaíma”, filme inspirado na obra homônima de Mário de Andrade, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Na película, contracenava com o ator Paulo José, velho conhecido dos tempos do Teatro de Arena, e a partir de então, oficializam uma relação estável de marido e mulher.
No cinema, a atriz atuaria em clássicos como “Álbum de Família” (1981), filme de Braz Chediak, baseado na obra homônima de Nelson Rodrigues; “Eros, o Deus do Amor” (1981), de Walter Hugo Khouri; “Das Tripas Coração” (1982), de Ana Carolina. Seu último filme, “O Judeu”, de Jom Tob Azulay, baseado na vida de Antônio José da Silva, escritor luso-brasileiro do século XVIII que morreu na fogueira da inquisição, foi feito em Portugal, na segunda metade da década de 1980, já com a atriz doente. Inacabado por falta de verba, o filme só iria estrear em 1996, sete anos após a morte da atriz.
A dimensão dramática de Dina Sfat alcançava a luz das telas com um magnetismo que poucas atrizes brasileiras conseguiu. Seu olhar domina o grande ecrã como se hipnotizasse a platéia em um fascínio singular.
Grande Estrela da Televisão Brasileira
Mas foi através da televisão, que Dina Sfat conquistou o amor de todos os brasileiros. Viveu personagens que marcaram época na história das telenovelas. Mesmo diante do grande sucesso televisivo, jamais se deixou seduzir por personagens lineares e caricatos. Arriscou grandes papéis, sem as amarras das heroínas habituais dos teledramas.
Sua estréia na televisão brasileira foi na novela “O Amor Tem Cara de Mulher”, em 1966, de Cassiano Gabus Mendes, baseada no original de Nenê Castellar, produzida pela extinta TV Tupi. Para a emissora paulista, fez ainda “Ciúme” (1966), de Thalma de Oliveira, e “A Intrusa” (1967), escrita por Geraldo Vietri. Passou pela extinta TV Excelsior, em “Os Fantoches” (1967), de Ivani Ribeiro. Em 1969, foi dirigida por Daniel Filho, na novela “Os Acorrentados”, de Janete Clair, feita sob encomenda do diretor no período que se desentendeu com a TV Globo, e, exibida pela TV Record e pela TV Rio.
A atuação de Dina Sfat no filme “Macunaíma” chamou a atenção de Dias Gomes, que a convidou, em 1970, para protagonizar a sua novela “Verão Vermelho”. Foi a estréia da atriz na TV Globo, coberta de grande sucesso, fazendo com que ela permanecesse na emissora carioca até a sua morte, em 1989. Durante as gravações da novela, a atriz ficou grávida da sua primeira filha, Bel Kutner. Magistralmente, fez outra grande personagem de Dias Gomes, na novela “Assim na Terra Como no Céu” (1970), tornando-se uma das atrizes preferidas do dramaturgo.
Em 1971, voltaria a interpretar uma personagem de Janete Clair, em “O Homem Que Deve Morrer”, ao lado de Tarcísio Meira e Glória Menezes. A partir de então, a autora requisitaria a sua presença em vários papéis marcantes, feitos sob medida para ela, como a densa e louca Fernanda, de “Selva de Pedra” (1972), personagem que ganhou grande popularidade na época, abalando o público brasileiro com a sua insanidade passional. Dina Sfat teve nesta personagem, a possibilidade de desenvolver todo o seu potencial delineado pela paixão que emanava do seu eu.
Em 1975, fez uma pequena participação especial na novela “Gabriela”, de Walter George Durst, baseada na obra de Jorge Amado. Apesar de aparecer apenas nos primeiros capítulos, vivendo a prostituta Zarolha, a atriz dominou a cena, obtendo um grande sucesso entre o público. Walter Avancini, o diretor da novela, era o preferido de Dina Sfat, que dizia, jamais recusar qualquer papel sendo proposto por ele.
Em 1977, Janete Clair escreveu um papel sob medida para a atriz, a fascinante Amanda, protagonista da novela “O Astro”. O folhetim tornou-se um clássico da teledramaturgia brasileira. Dina Sfat terminou a década de 1970 como contratada exclusiva da TV Globo, uma honra só para os grandes astros da época, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Francisco Cuoco e Regina Duarte.
Dina Sfat participou da última novela escrita por Janete Clair, “Eu Prometo”, em 1983. Na trama, tinha como uma das suas filhas, a então estreante Malu Mader.
Em 1979 aceitou o desafio de fazer Paloma Gurgel, personagem central da novela "Os Gigantes", de Lauro César Muniz. Texto difícil, pouco carismático, teve a rejeição do público e da própria atriz. Mesmo assim, no papel de uma mulher que cometia eutanásia no irmão gêmeo e suicidava-se para fugir às leis e à prisão, Dina Sfat teve um dos momentos mais densos e sublime do seu esplendor dramático dentro da televisão brasileira.
Seu último trabalho na televisão foi a Laura de “Bebê a Bordo”, em 1988, novela de Carlos Lombardi. Bastante debilitada pelo câncer, a atriz lutou bravamente para concluir este que ela sabia, seria o seu último trabalho. Acometida por fortes dores, a sua participação foi bastante reduzida na trama, que ela concluiu bravamente poucos meses antes de vir a falecer. Sua passagem pela televisão, foi um dos maiores marcos da história das telenovelas. Daniel Filho costuma dizer que, Dina Sfat muitas vezes reclamava e odiava fazer determinados personagens, mas jamais os interpretara mal.
A Personalidade
Preferida dos grandes autores, diretores, críticos e público, Dina Sfat seduziu o Brasil e os países para onde a teledramaturgia brasileira foi exportada. Era uma mulher que jamais deixou que se lhe invadisse a privacidade, sendo uma mãe atenciosa e dedicada às três filhas, Bel, Ana e Clara, frutos do seu casamento com Paulo José, que durou 17 anos. Na intimidade, a estrela dava passagem para a mãe amorosa e atenciosa.
Na vida pública, suas frases desencadearam grandes polêmicas, como a criada com os homossexuais, quando declarou que os teatros estavam a ser tomados por eles, não restando mais espaço para ninguém. A declaração foi feita com humor, não com homofobia, numa época que estreavam várias peças com temática homossexual pelos palcos do Brasil. O público gay, que lhe tinha grande adoração, reagiu e ela, inteligentemente, explicou o que tinha dito.
Em 1985, tentando uma pausa nas novelas e no teatro, ela decidiu dedicar o ano às filhas, partindo com elas para Portugal, onde fixaria residência por algum tempo. Sua viagem pela Europa foi interrompida pela descoberta de um câncer, em 1986. Lutadora, Dina Sfat decidiu por adotar tratamentos não convencionais no combate à doença, o que teve a desaprovação dos amigos, tementes por sua saúde e pela expansão da doença.
Mesmo doente, a atriz jamais deixou de trabalhar. Em viagem de tratamento à União Soviética, ao lado de Daniel Filho, realizou o documentário “Dina Sfat na União Soviética” (1988), que falava entre outras coisas, da então incipiente Perestroika.
De volta ao Brasil, lançou-se de cabeça na novela “Bebê a Bordo”, onde atuou já bastante debilitada. A atriz sabia que tinha chegado ao crepúsculo de uma vida excepcional, voltada para os palcos e à arte, e trazia como sonho encerrar aquele, que seria o seu último trabalho. Aos poucos, a sua participação na novela foi reduzida, mas ela encerrou o trabalho bravamente, com a dignidade que lhe era peculiar. O último capítulo de “Bebê a Bordo” foi ao ar em 11 de fevereiro de 1989, Dina Sfat veio a falecer em 20 de março daquele ano, aos 50 anos de idade. Pouco tempo antes de morrer, lançou a sua autobiografia “Dina Sfat – Palmas Pra Que Te Quero”, escrita em parceria com a jornalista Mara Caballero, mais uma vez lançando polêmicas, a última de uma grande carreira, feita por uma grande mulher, movida pela arte e pela paixão. Ninguém lhe herdou a técnica cênica, Dina Sfat foi única no cenário brasileiro. Sedutoramente inesquecível!
Televisão
Telenovelas:
1966 – O Amor Tem Cara de Mulher (TV Tupi)
1966 – Ciúme (TV Tupi)
1967 – A Intrusa (TV Tupi)
1967/1968 – Os Fantoches (TV Excelsior)
1969 – Os Acorrentados (TV Record)
1970 – Verão Vermelho (TV Globo)
1970/1971 – Assim na Terra Como no Céu (TV Globo)
1971/1972 – O Homem Que Deve Morrer (TV Globo)
1972/1973 – Selva de Pedra (TV Globo)
1973/1974 – Os Ossos do Barão (TV Globo)
1974/1975 – Fogo Sobre Terra (TV Globo)
1975 – Gabriela (TV Globo)
1976 – Saramandaia (TV Globo)
1977/1978 – O Astro (TV Globo)
1979/1980 – Os Gigantes (TV Globo)
1983/1984 – Eu Prometo (TV Globo)
1988/1989 – Bebê a Bordo (TV Globo)
Minisséries:
1982 – Avenida Paulista (TV Globo)
1984 – Rabo de Saia (TV Globo)
Séries:
1971 – A Pérola (Caso Especial – TV Globo)
1972 – Sombra de Suspeita (Caso Especial – TV Globo)
1973 – As Praias Desertas (Caso Especial – TV Globo)
1973 – O Preço de Cada Um (Caso Especial – TV Globo)
1976 – Quem Era Shirley Temple? (Caso Especial – TV Globo)
1978 – O Caminho das Pedras Verdes (Caso Especial – TV Globo)
1978 – A Morte E a Morte de Quincas Berro D’Água (Caso Especial – TV Globo)
1979 – Aplauso – Episódio Véu de Noiva (TV Globo)
1980 – Malu Mulher – Episódio A Trambiqueira (TV Globo)
1983 – Mandrake (Caso Especial – TV Globo)
Cinema
1966 – O Corpo Ardente
1966 – Três Histórias de Amor
1968 – Edu, Coração de Ouro
1968 – A Vida Provisória
1969 – Macunaíma
1970 – Perdidos e Malditos
1970 – Jardim de Guerra
1970 – Os Deuses e Os Mortos
1971 – O Barão Otelo no Barato dos Bilhões
1971 – Gaudêncio, o Centauro dos Pampas
1971 – O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil
1971 – A Culpa
1973 – Tati, A Garota
1981 – Eros, O Deus do Amor
1981 – Álbum de Família
1982 – O Homem do Pau-Brasil
1982 – Tensão no Rio
1982 – Das Tripas Coração
1988 – Fábula de la Bella Palomera
1996 – O Judeu (feito em 1988)
Teatro
Interpretação:
1957 – A Rainha e os Rebeldes
1960 – Antígone América
1962 – Aquele Que Diz Sim, Aquele Que Diz não
1962 – Os Fuzis da Senhora Carrar
1963 – O Melhor Juiz, o Rei
1964 – O Filho do Cão
1964 – Depois da Queda
1964 – Tartufo
1965 – Arena Conta Zumbi
1966 – O Inspetor Geral
1967 – Arena Conta Tiradentes
1967 – O Rei da Vela
1967 – Os Inconfidentes
1970 – Black Comedy
1973 – Dorotéia Vai à Guerra
1974 – O Colecionador
1975 – A Mandrágora
1977 – Seis Personagens à Procura de Um Autor
1979 – Murro em Ponta de Faca
1980 – Transaminases
1981 – As Criadas
1982 – Hedda Gabler
1984 – A Irresistível Aventura
1986 – Florbela Espanca (Encenada em Portugal)
Produção:
1982 – Hedda Gabler
1986 – Ninguém Paga, Ninguém Paga
Falar de Dina Sfat traz sempre uma dor movida pela saudade. Seu magnetismo pessoal torna-a inesquecível, seu talento profissional fez dela uma das atrizes mais amadas e cultuadas pelo grande público e pela crítica. Viveu a maior parte da sua juventude e início da maturidade sob a mão pesada da ditadura militar, a qual combateu energicamente, sempre apoiando a esquerda perseguida na época, sem jamais se filiar a qualquer partido ou tendência.
Figura inquieta e polêmica, Dina Sfat sempre teve a coragem de dizer o que pensava e sustentar a sua visão de mundo e de Brasil, mesmo quando não agradava às correntes sociais ou ideológicas. Na sua vida particular era discreta, não se deixando levar pelos escândalos amorosos e pelo sensacionalismo dos holofotes da mídia. Foi casada 17 anos com o ator Paulo José, com quem teve três filhas: Bel Kutner, Ana e Clara.
Dina Sfat pertence à geração de atrizes que surgiu com o teatro engajado do início dos anos sessenta, que depois conquistou a televisão quando esta se firmou como veículo cultural no Brasil. Tornou-se a atriz preferida da mítica autora Janete Clair, e uma das mais requisitadas por Dias Gomes. Jamais se furtou a fazer papéis diferentes, rompendo com a tradição maniqueísta das heroínas das telenovelas, interpretando vilãs, prostitutas, mulheres sofredoras, todas centradas no seu jeito agudo e inteligente de ser e transmitir a sua arte.
Dina Sfat trazia uma beleza misteriosa, moldada a partir da personalidade. Olhos grandes, que portavam um olhar que penetrava na alma dos que se lhe pusesse na frente e do público, que por ela se deixava fascinar.
Infelizmente Dina Sfat partiu muito cedo, no auge da sua essência de mulher que se abria para a maturidade da vida. Em um país de pouca memória, deixou um legado rico e pronto para ser sempre redescoberto. Aos 50 anos de idade, Dina Sfat atravessou os palcos além das cortinas da vida, entrando para a galeria dos mitos do Brasil, sendo uma das mais carismática e talentosa atriz que já tivemos. Levou consigo a sua voz penetrante, a sua inquietude diante da vida, deixando-nos presos a uma saudade latente de uma grande mulher. Dina Sfat, com os seus olhos grandes e infinitos, seduz hoje os palcos do céu, os anjos da arte!
A Estréia no Teatro na Década de 1960
Dina Kutner de Souza nasceu em São Paulo, em 28 de outubro de 1938. Filha de imigrantes judeus poloneses, ninguém poderia imaginar que aquela menina aos 16 anos, quando começou a trabalhar em um laboratório de análises, tornar-se-ia uma das mais importantes atrizes brasileiras do século XX.
Sua estréia oficial seria na peça “A Rainha e os Rebeldes”, em São Paulo, em 1957, sob a direção de Maurice Francini. Profissionalizou-se a partir da peça “Antígone América”, em 1960, sob a direção de Antônio Abujamra. Depois do espetáculo, voltou ao amadorismo teatral, fazendo parte de um grupo estudantil do centro acadêmico da faculdade de engenharia da Universidade Mackenzie. No grupo fez, em 1962, duas peças de Bertolt Brecht: “Aquele Que Diz Sim, Aquele Que Diz Não”, sob a direção de Antônio Ghigonetto e “Os Fuzis da Senhora Carrar”, sob a direção de Emílio Di Biasi.
Desde sempre, Dina Sfat descobrira o talento para as artes, sonhando sempre em ser uma atriz. Em 1962 entrou em contacto com o histórico Teatro de Arena. Foi chamada, em 1963, para integrar o elenco da peça “O Melhor Juiz, o Rei”, de Lope de Vega, sob a direção de Augusto Boal. Muito jovem, e para evitar a exposição da família, a atriz mudou o nome Kutner para Sfat, uma homenagem à cidade natal da sua mãe. Nascia oficialmente, a atriz Dina Sfat.
Do Teatro Engajado à Luta Contra a Ditadura Militar
No Teatro de Arena, integraria o elenco de peças famosas dos anos 1960, como “Tartufo” (1964), de Molière; “Arena Conta Zumbi” (1965), musical de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, que lhe renderia o Prêmio Governador do Estado de São Paulo como melhor atriz. Ainda sob a direção de Augusto Boal, faria “O Inspetor Geral” (1966), de Nikolai Gogol; e, “Arena Conta Tiradentes” (1967), de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal.
Em 1967, Dina Sfat aceitaria um grande desafio, substituir a atriz Ítala Nandi no elenco da peça “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, encenada para o mítico Teatro Oficina, por José Celso Martinez Corrêa. Com esta peça, a atriz conquistaria não só o público paulistano, como a crítica do Rio de Janeiro.
No cenário político, o Brasil entrava para a fase mais obscura da sua história, quando os militares tomaram o poder através de um golpe de estado, em 1964.
As intervenções do Teatro de Arena e do Teatro Oficina, foram fundamentais para que não se calasse o artista, atuando sob o julgo da ditadura. É o chamado teatro engajado e politizado daquela década conturbada. Dina Sfat foi uma das atrizes do grupo que foi veemente em expressar as reivindicações pela liberdade e contra a opressão do regime. Sua inquietação diante da vida fez com que não abandonasse jamais a luta pela redemocratização do país enquanto a ditadura militar estivesse no poder; sua coerência inteligente, fez com que não se associasse a partido de esquerda algum, apesar de assumir as suas bandeiras publicamente.
Já nos anos 1980, quando a ditadura dava os seus últimos suspiros, Dina Sfat, então grande ícone da dramaturgia brasileira, ousava a dizer em público, a um poderoso militar, que tinha medo deles. Era uma afronta corajosa à truculência de um governo ilegítimo. Em 1984, chegou a anunciar que sairia candidata ao cargo de vice-presidente do Brasil pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), uma verdadeira declaração provocativa, visto que a sigla estava na clandestinidade, fazendo parte da chamada frente democrática do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Mesmo sendo vista pelos militares como líder feminista ligada à extrema esquerda, Dina Sfat jamais se filiou a qualquer sigla ou facção partidária. Foi uma mulher que soube observar o seu tempo e lutar contra a opressão, visando sempre a liberdade de um mundo melhor. Viveria poucos anos para ver os frutos da sua luta quando a democracia floresceu novamente no país, com o fim do regime militar em 1985.
A Atriz no Cinema
Já no inicio da carreira, Dina Sfat revelou o seu grande talento para atuar diante das câmeras. Marcou a sua estréia no cinema, em 1966, no filme “O Corpo Ardente”, de Walter Hugo Khouri.
Em 1969, Dina Sfat viveu com grande destaque e talento, a guerrilheira Cy, de “Macunaíma”, filme inspirado na obra homônima de Mário de Andrade, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Na película, contracenava com o ator Paulo José, velho conhecido dos tempos do Teatro de Arena, e a partir de então, oficializam uma relação estável de marido e mulher.
No cinema, a atriz atuaria em clássicos como “Álbum de Família” (1981), filme de Braz Chediak, baseado na obra homônima de Nelson Rodrigues; “Eros, o Deus do Amor” (1981), de Walter Hugo Khouri; “Das Tripas Coração” (1982), de Ana Carolina. Seu último filme, “O Judeu”, de Jom Tob Azulay, baseado na vida de Antônio José da Silva, escritor luso-brasileiro do século XVIII que morreu na fogueira da inquisição, foi feito em Portugal, na segunda metade da década de 1980, já com a atriz doente. Inacabado por falta de verba, o filme só iria estrear em 1996, sete anos após a morte da atriz.
A dimensão dramática de Dina Sfat alcançava a luz das telas com um magnetismo que poucas atrizes brasileiras conseguiu. Seu olhar domina o grande ecrã como se hipnotizasse a platéia em um fascínio singular.
Grande Estrela da Televisão Brasileira
Mas foi através da televisão, que Dina Sfat conquistou o amor de todos os brasileiros. Viveu personagens que marcaram época na história das telenovelas. Mesmo diante do grande sucesso televisivo, jamais se deixou seduzir por personagens lineares e caricatos. Arriscou grandes papéis, sem as amarras das heroínas habituais dos teledramas.
Sua estréia na televisão brasileira foi na novela “O Amor Tem Cara de Mulher”, em 1966, de Cassiano Gabus Mendes, baseada no original de Nenê Castellar, produzida pela extinta TV Tupi. Para a emissora paulista, fez ainda “Ciúme” (1966), de Thalma de Oliveira, e “A Intrusa” (1967), escrita por Geraldo Vietri. Passou pela extinta TV Excelsior, em “Os Fantoches” (1967), de Ivani Ribeiro. Em 1969, foi dirigida por Daniel Filho, na novela “Os Acorrentados”, de Janete Clair, feita sob encomenda do diretor no período que se desentendeu com a TV Globo, e, exibida pela TV Record e pela TV Rio.
A atuação de Dina Sfat no filme “Macunaíma” chamou a atenção de Dias Gomes, que a convidou, em 1970, para protagonizar a sua novela “Verão Vermelho”. Foi a estréia da atriz na TV Globo, coberta de grande sucesso, fazendo com que ela permanecesse na emissora carioca até a sua morte, em 1989. Durante as gravações da novela, a atriz ficou grávida da sua primeira filha, Bel Kutner. Magistralmente, fez outra grande personagem de Dias Gomes, na novela “Assim na Terra Como no Céu” (1970), tornando-se uma das atrizes preferidas do dramaturgo.
Em 1971, voltaria a interpretar uma personagem de Janete Clair, em “O Homem Que Deve Morrer”, ao lado de Tarcísio Meira e Glória Menezes. A partir de então, a autora requisitaria a sua presença em vários papéis marcantes, feitos sob medida para ela, como a densa e louca Fernanda, de “Selva de Pedra” (1972), personagem que ganhou grande popularidade na época, abalando o público brasileiro com a sua insanidade passional. Dina Sfat teve nesta personagem, a possibilidade de desenvolver todo o seu potencial delineado pela paixão que emanava do seu eu.
Em 1975, fez uma pequena participação especial na novela “Gabriela”, de Walter George Durst, baseada na obra de Jorge Amado. Apesar de aparecer apenas nos primeiros capítulos, vivendo a prostituta Zarolha, a atriz dominou a cena, obtendo um grande sucesso entre o público. Walter Avancini, o diretor da novela, era o preferido de Dina Sfat, que dizia, jamais recusar qualquer papel sendo proposto por ele.
Em 1977, Janete Clair escreveu um papel sob medida para a atriz, a fascinante Amanda, protagonista da novela “O Astro”. O folhetim tornou-se um clássico da teledramaturgia brasileira. Dina Sfat terminou a década de 1970 como contratada exclusiva da TV Globo, uma honra só para os grandes astros da época, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Francisco Cuoco e Regina Duarte.
Dina Sfat participou da última novela escrita por Janete Clair, “Eu Prometo”, em 1983. Na trama, tinha como uma das suas filhas, a então estreante Malu Mader.
Em 1979 aceitou o desafio de fazer Paloma Gurgel, personagem central da novela "Os Gigantes", de Lauro César Muniz. Texto difícil, pouco carismático, teve a rejeição do público e da própria atriz. Mesmo assim, no papel de uma mulher que cometia eutanásia no irmão gêmeo e suicidava-se para fugir às leis e à prisão, Dina Sfat teve um dos momentos mais densos e sublime do seu esplendor dramático dentro da televisão brasileira.
Seu último trabalho na televisão foi a Laura de “Bebê a Bordo”, em 1988, novela de Carlos Lombardi. Bastante debilitada pelo câncer, a atriz lutou bravamente para concluir este que ela sabia, seria o seu último trabalho. Acometida por fortes dores, a sua participação foi bastante reduzida na trama, que ela concluiu bravamente poucos meses antes de vir a falecer. Sua passagem pela televisão, foi um dos maiores marcos da história das telenovelas. Daniel Filho costuma dizer que, Dina Sfat muitas vezes reclamava e odiava fazer determinados personagens, mas jamais os interpretara mal.
A Personalidade
Preferida dos grandes autores, diretores, críticos e público, Dina Sfat seduziu o Brasil e os países para onde a teledramaturgia brasileira foi exportada. Era uma mulher que jamais deixou que se lhe invadisse a privacidade, sendo uma mãe atenciosa e dedicada às três filhas, Bel, Ana e Clara, frutos do seu casamento com Paulo José, que durou 17 anos. Na intimidade, a estrela dava passagem para a mãe amorosa e atenciosa.
Na vida pública, suas frases desencadearam grandes polêmicas, como a criada com os homossexuais, quando declarou que os teatros estavam a ser tomados por eles, não restando mais espaço para ninguém. A declaração foi feita com humor, não com homofobia, numa época que estreavam várias peças com temática homossexual pelos palcos do Brasil. O público gay, que lhe tinha grande adoração, reagiu e ela, inteligentemente, explicou o que tinha dito.
Em 1985, tentando uma pausa nas novelas e no teatro, ela decidiu dedicar o ano às filhas, partindo com elas para Portugal, onde fixaria residência por algum tempo. Sua viagem pela Europa foi interrompida pela descoberta de um câncer, em 1986. Lutadora, Dina Sfat decidiu por adotar tratamentos não convencionais no combate à doença, o que teve a desaprovação dos amigos, tementes por sua saúde e pela expansão da doença.
Mesmo doente, a atriz jamais deixou de trabalhar. Em viagem de tratamento à União Soviética, ao lado de Daniel Filho, realizou o documentário “Dina Sfat na União Soviética” (1988), que falava entre outras coisas, da então incipiente Perestroika.
De volta ao Brasil, lançou-se de cabeça na novela “Bebê a Bordo”, onde atuou já bastante debilitada. A atriz sabia que tinha chegado ao crepúsculo de uma vida excepcional, voltada para os palcos e à arte, e trazia como sonho encerrar aquele, que seria o seu último trabalho. Aos poucos, a sua participação na novela foi reduzida, mas ela encerrou o trabalho bravamente, com a dignidade que lhe era peculiar. O último capítulo de “Bebê a Bordo” foi ao ar em 11 de fevereiro de 1989, Dina Sfat veio a falecer em 20 de março daquele ano, aos 50 anos de idade. Pouco tempo antes de morrer, lançou a sua autobiografia “Dina Sfat – Palmas Pra Que Te Quero”, escrita em parceria com a jornalista Mara Caballero, mais uma vez lançando polêmicas, a última de uma grande carreira, feita por uma grande mulher, movida pela arte e pela paixão. Ninguém lhe herdou a técnica cênica, Dina Sfat foi única no cenário brasileiro. Sedutoramente inesquecível!
Televisão
Telenovelas:
1966 – O Amor Tem Cara de Mulher (TV Tupi)
1966 – Ciúme (TV Tupi)
1967 – A Intrusa (TV Tupi)
1967/1968 – Os Fantoches (TV Excelsior)
1969 – Os Acorrentados (TV Record)
1970 – Verão Vermelho (TV Globo)
1970/1971 – Assim na Terra Como no Céu (TV Globo)
1971/1972 – O Homem Que Deve Morrer (TV Globo)
1972/1973 – Selva de Pedra (TV Globo)
1973/1974 – Os Ossos do Barão (TV Globo)
1974/1975 – Fogo Sobre Terra (TV Globo)
1975 – Gabriela (TV Globo)
1976 – Saramandaia (TV Globo)
1977/1978 – O Astro (TV Globo)
1979/1980 – Os Gigantes (TV Globo)
1983/1984 – Eu Prometo (TV Globo)
1988/1989 – Bebê a Bordo (TV Globo)
Minisséries:
1982 – Avenida Paulista (TV Globo)
1984 – Rabo de Saia (TV Globo)
Séries:
1971 – A Pérola (Caso Especial – TV Globo)
1972 – Sombra de Suspeita (Caso Especial – TV Globo)
1973 – As Praias Desertas (Caso Especial – TV Globo)
1973 – O Preço de Cada Um (Caso Especial – TV Globo)
1976 – Quem Era Shirley Temple? (Caso Especial – TV Globo)
1978 – O Caminho das Pedras Verdes (Caso Especial – TV Globo)
1978 – A Morte E a Morte de Quincas Berro D’Água (Caso Especial – TV Globo)
1979 – Aplauso – Episódio Véu de Noiva (TV Globo)
1980 – Malu Mulher – Episódio A Trambiqueira (TV Globo)
1983 – Mandrake (Caso Especial – TV Globo)
Cinema
1966 – O Corpo Ardente
1966 – Três Histórias de Amor
1968 – Edu, Coração de Ouro
1968 – A Vida Provisória
1969 – Macunaíma
1970 – Perdidos e Malditos
1970 – Jardim de Guerra
1970 – Os Deuses e Os Mortos
1971 – O Barão Otelo no Barato dos Bilhões
1971 – Gaudêncio, o Centauro dos Pampas
1971 – O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil
1971 – A Culpa
1973 – Tati, A Garota
1981 – Eros, O Deus do Amor
1981 – Álbum de Família
1982 – O Homem do Pau-Brasil
1982 – Tensão no Rio
1982 – Das Tripas Coração
1988 – Fábula de la Bella Palomera
1996 – O Judeu (feito em 1988)
Teatro
Interpretação:
1957 – A Rainha e os Rebeldes
1960 – Antígone América
1962 – Aquele Que Diz Sim, Aquele Que Diz não
1962 – Os Fuzis da Senhora Carrar
1963 – O Melhor Juiz, o Rei
1964 – O Filho do Cão
1964 – Depois da Queda
1964 – Tartufo
1965 – Arena Conta Zumbi
1966 – O Inspetor Geral
1967 – Arena Conta Tiradentes
1967 – O Rei da Vela
1967 – Os Inconfidentes
1970 – Black Comedy
1973 – Dorotéia Vai à Guerra
1974 – O Colecionador
1975 – A Mandrágora
1977 – Seis Personagens à Procura de Um Autor
1979 – Murro em Ponta de Faca
1980 – Transaminases
1981 – As Criadas
1982 – Hedda Gabler
1984 – A Irresistível Aventura
1986 – Florbela Espanca (Encenada em Portugal)
Produção:
1982 – Hedda Gabler
1986 – Ninguém Paga, Ninguém Paga
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