Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

sábado, 1 de setembro de 2012

A guerreira Glauce Rocha



Ela foi uma das mais importantes atrizes brasileiras, mas, desde criança, sonhava em ser médica.
A vida, no entanto, a levou por caminhos bem diferentes.
Glauce Rocha se tornou atriz numa época politicamente difícil do Brasil, em plena ditadura Getúlio Vargas, quando as atrizes eram consideradas, oficialmente, prostitutas e recebiam, dos órgãos do governo, a mesma “carteirinha” de identificação.
Glauce foi uma das primeiras atrizes a lutar pelo reconhecimento da sua profissão.
Glauce Elddé Araújo Rocha nasceu em 16 de agosto de 1930, na cidade de Campo Grande, filha de Leopoldino de Araújo Rocha, migrante alogoano e soldado do exército, e de Edelweiss Ilgenfritz Rocha, gaúcha criada em Campo Grande; era a caçula de quatro irmãos.
O pai de Glauce morreu assassinado quando ela tinha apenas 5 anos de idade. Mas por toda a vida ela pode se lembrar, com detalhes, desse acontecimento.
Glauce era estudiosa e sempre se saiu bem na escola. Adolescente, foi mandada para Minas, num internato católico, dirigido por freiras. Com 17 anos voltou para Campo Grande para continuar seus estudos.
Com 19, foi morar com os avós, em Porto Alegre, para se preparar para o concorrido vestibular de Medicina. Lá, foi colega de classe do futuro ator Walmor Chagas. Depois, foi para o Rio para fazer o exame para a faculdade. Não passou. Morava num pensionato e aceitou o convite de uma amiga para ir a um curso de línguas. No mesmo prédio, funcionava o Curso Prévio de Teatro.
De repente, Glauce abandonou o cursinho pré vestibular, esqueceu a Medicina e se apaixonou pela arte de interpretar. Matriculou-se no Conservatório Nacional de Teatro.
Começou a carreira em 1950, fazendo peças infantis.
Em 1952, estava na Companhia Alda Garrido e, ainda nesse ano, alcançou sucesso de crítica e de público.
Foi para a TV e para o cinema.
E se tornou conhecida, no meio artístico, pela incrível capacidade de trabalho. O dia inteiro na TV, à noite no teatro e ainda conseguia tempo para fazer cinema, lutar politicamente pela regulamentação da carreira de ator e contra a censura (que tanto na ditadura de Getúlio quanto na ditadura militar campeava solta nos meios de comunicação do país).
Acontece que para fazer tudo isso, Glauce tomava remédios para dormir e remédios para acordar. Fumava muitíssimo. Abusava da saúde.
Também não era feliz no amor. Casou-se com o ator Milton Costa em 1952 e logo se separou dela. Teve vários companheiros e nenhuma relação ia para a frente. Seu último companheiro foi o médico psiquiatra Joaquim da Silva Nunes.
Muito presente no Cinema Novo, Glauce teve vários problemas com a censura. Participou de clássicos como Rio 40º, de Nelson Pereira dos Santos, em 1955 e Terra em Transe, de Glauber Rocha, em 1967.
Em 1970, sua mãe morreu de infarte.
E Glauce que, como a mãe, era uma fumante inveterada, começou a colecionar artigos sobre as doenças do coração. Seus camarins viviam cheios de cinzeiros e de caixinhas de remédios. E ela continuava trabalhando demais.
Estava fazendo a novela da TV Tupi, o Hospital, quando, em 12 de outubro de 1971, um ano depois da morte de sua mãe, o infarte a pegou. Morreu na Unidade Cardiológica da Alameda Santos, em São Paulo, às cinco da tarde. Tinha apenas 41 anos, era famosa, mas pobre.
 Filmes de Glauce Rocha:
1972 - Cassy Jones, o magnífico sedutor
1971 - Um homem sem importância
1970 - O dia marcado
1969 - Incrível, fantástico, extraordinário
1969 - Tempo de violência
1968 - Na mira do assassino
1968 - Jardim de guerra
1966 - A derrota
1965 - O beijo
1963 - Marafa (inacabado)
1962 - Quatro mulheres para um herói
1962 - Sol sobre a lama
1962 - Os cafajestes
1961 - Mulheres e milhões
1959 - Helena (inacabado)
1959 - Um caso de polícia
1958 - Traficantes do crime
1957 - O noivo da girafa
1955 - Rio, 40 graus
1954 - Rua sem sol
1952 - Aventura no Rio
1952 - Com o diabo no corpo
1950 - Aviso aos navegantes

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