Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

domingo, 18 de novembro de 2012

Grandes Atrizes que o Brasil Esqueceu - Lucília Peres


Lucília Peres na Grande Companhia Dramática do Teatro da Exposição Nacional, empresa fundada por Artur Azevedo. Belém, Pará (1908).

Atrizes que o Brasil esqueceu - Lucília Peres: Filha do ator Gil Ribeiro e da atriz Olívia Montani, nasceu em Lorena (SP) a 6 de março de 1881. Casou-se com o escritor teatral Álvaro Peres, de quem logo ficou viúva. Trabalhou nas companhias de Cristiano de Souza e Dias Braga, tornando-se rapidamente uma estrela. Tornou-se uma promissora empresária teatral no século 20. Primeiro montou a Companhia Lucília Peres. Depois, aliou-se ao astro Leopoldo Fróes, e, juntos, abriram uma grandiosa empresa teatral. O grande Arthur Azevedo, encantado com sua versatilidade de atriz, escreveu para ela a peça "O dote e fonte da castália". Durante anos, Lucília foi a primeira atriz de sua companhia. No Rio, ela ocupava os principais teatros da época (Ápolo, João Caetano, Trianon) com espetáculos variados que emendavam um no outro. Às vezes, com uma semana em cartaz.  Às vezes, com uma semana em cartaz.  Lucília, que morreu em 1962, estava no elenco da peça Loucuras do imperador (1958), na qual estreava Fernanda Montenegro. Na estreia, após a sessão, ela fez um discurso comovido sobre a atuação daquela moça, anunciando que nascia ali uma grande atriz. O espetáculo tinha o Ponto e Fernanda ficou atrapalhada, ela já vinha de um teatro amador moderno. Mas Lucília precisa do Ponto e foi uma loucura. O público gritava ao final do espetáculo. Ave, Lucília Peres.   



Por Cafu

Essa grande dama do teatro brasileiro nasceu em Lorena-SP, sendo seus pais o ator Gil Ribeiro e a atriz Olimpia Montani. Foi casada com o dramaturgo e teatrólogo Álvaro Peres.

Artur Azevedo escreveu para ela representar A Fonte Castalia e O Dote.

A Fonte Castalia é uma comédia desenvolvida de um quadro da sua revista Viagem ao Parnaso e estreou no Teatro Recreio a 7 de julho de 1904. No elenco constavam: Lucília Peres, Ferreira de Souza, Olimpio Nogueira, Alfredo Silva, João Barbosa, Delorme, Marzullo, Bragança, Helena Cavalier, Pepa Delgado.

De acordo com Lafayette Silva, em seu livro História do Teatro Brasileiro, a peça conta “a história de um rapaz, Gilberto, pretendente à mão de Laura, filha de um burguês que tinha preocupação de ser poeta e adorava os favoritos das musas. O pai da menina exige que o pedido de noivado lhe seja feito em verso. Condição sine qua non... Gilberto embaraça-se, desanima, mas Vênus providencialmente apresenta-se em seu auxílio e conduz o rapaz enamorado ao monte Parnaso, onde ele, sofregamente, bebe a água milagrosa da fonte Castalia e ganha o dom da poesia. Graças a isso, não só consegue Gilberto a mão de Laura, como transmite o dom da poesia ao sogro, para quem trouxe uma garrafa do precioso líquido.”

O Dote estreou em 2 de abril de 1907, também no Teatro Recreio. A idéia nasceu de uma crônica, Reflexões de um Marido, de Julia Lopes de Almeida, publicada em dezembro do ano anterior no O País.

Lucília Peres também foi a atriz principal da Companhia Dramática, fundada por Artur Azevedo, e que ocupou, em agosto de 1908, o Teatro João Caetano, no recinto da Exposição Nacional, na Praia Vermelha. A companhia estreou, em récita de gala, com a peça O Quebranto, comédia em três atos de Coelho Neto. O elenco era composto por alguns dos melhores nomes do drama e da comédia da época. Os atores: Ferreira de Souza, Alfredo Silva, Francisco Marzullo, Antônio Ramos, João de Deus, Cândido Nazareth e Tavares. As atrizes: Lucília Peres, Cinira Apolônio, Gabriela Montani, Luiza de Oliveira, Natalina Serra, Estefânia Louro e Julieta Pinto. O diretor, seu marido, Álvaro Peres.

Por três meses seguidos foram levados à cena, para os visitantes da Exposição, os seguintes originais brasileiros: O Quebranto, Coelho Neto; Sonata ao Luar, Goulart de Andrade; A Herança, Júlia Lopes de Almeida; As Doutoras, França Júnior; O Noviço, Martins Pena; Romançe de uma Moça Rica, Pinheiro Guimarães; O Defunto, Felinto de Almeida; Não Consultes Médico, Machado de Assis; Os Irmãos das Almas, Martins Pena; Vida e Morte, a última peça de Artur de Azevedo; Duelo no Leme, José Piza; O Dote, Artur de Azevedo; A Nuvem, Coelho Neto; Eterno Romance, lever de rideau, Agenor de Carvoliva; Carta Anônima, Figueiredo Coimbra; e Desencanto, Carmem Dolores.

Segundo Mario Nunes, “Algumas dessas peças foram levadas à cena mais de uma vez. O teatro era ocupado por outras companhias itinerantes, nele se realizavam concertos e conferências; a falta de continuidade dos espetáculos da companhia influía prejudicialmente na freqüência do público; e bem assim, as outras diversões no recinto da Exposição.
Artisticamente porém, o êxito foi satisfatório. Trabalhava ainda ali a companhia quando Artur faleceu; adotou ela então, como justa homenagem, o nome do ilustre homem de teatro, realizando, depois, espetáculos no Carlos Gomes, dissolvendo-se em seguida.”

Ao que tudo indica, o elenco tentou, por mais uns meses, resistir à dissolução da companhia. Saiu em turnê pelos estados do Norte e Nordeste e se apresentou em São Paulo, em março de 1909, conforme registro de O Estado, citado por Sábato Magali e Maria Thereza Vargas no livro Cem Anos de Teatro em São Paulo: “Apesar da crise por que está passando o teatro nacional, os artistas constituíram-se em empresa, de que todos são societários, e empreenderam a louvável tarefa de representar de preferência peças nacionais e uma ou outra estrangeira” (24/03/1909).

Em 1911, nasceu a Companhia Lucília Peres, que encenou várias peças no Teatro Apolo, levando a série, acrescida de outras, ao Teatro Carlos Gomes. Lucília foi, ainda, a primeira figura da temporada do Municipal de 1912 e da Companhia Cristiano de Souza, no São Pedro, quando saiu Maria Falcão. Trabalhou com Leopoldo Fróes no Pathé, e com Alexandre Azevedo no Trianon. Ao lado de Dias Braga teve grande destaque no Recreio. Com Leopoldo Froés chegou a fundar a Companhia Lucília Peres - Leopoldo Froés, criada em 1915 e desfeita em outubro de 1916.

Sua carreira prosseguiu por muito tempo pelos palcos brasileiros ao lado de colegas famosos e em companhias renomadas. Uma grande artista que merece o reconhecimento da posteridade, aplausos calorosos e justas homenagens.


Foto:
Levi, Clovis - História Visual - Teatro Brasileiro, um panorama do século XX. FUNARTE; Rio de Janeiro e Atração Produções Ilimitadas; São Paulo, 1997.

Nunes, Mario - 40 Anos de Teatro - 1º Volume . Departamento de Imprensa Nacional; Rio de Janeiro, 1956.

Silva, Lafayette - História do Teatro Brasileiro. Serviço Gráfico do Ministério da Educação e Saúde. Rio de Janeiro, 1938.

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