Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Chico Total



Não teve chuva, congestionamento, greve e metrô ou hora do rush que tirasse do sério o brasiliense que compareceu na noite de quarta-feira ao Centro Cultural Banco do Brasil. Isso porque o grande nome do humor nacional, Chico Anysio, estava ali para ser homenageado e fazer rir. A reverência ao mestre foi o último encontro este ano do projeto Mitos do teatro brasileiro.


“Quando fui convidado para vir aqui, fiquei pensando. Entrei num grande time que tem Dulcina de Moares, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira, Nelson Rodrigues e Cacilda Becker e estão todos mortos. Será que para eu também ser homenageado, terei que me suicidar? Sou o único deles ainda vivo. E mais vivo do que nunca”, brincou.

A trajetória pessoal e profissional do artista nascido em Maranguape (CE) foi lembrada pelo próprio Chico e também por meio das cenas criadas pelo dramaturgo e jornalista Sérgio Maggio. Encontros inusitados entre personagens de Chico Anysio, interpretados pelo ator e curador do projeto, Jones Schneider, e as atrizes que foram lembradas pelo Mitos, vividas por Elisete Teixeira, encantaram a plateia.

Enquanto o aposentado Pantaleão, sentado em sua famosa cadeira de balanço se divertia com a espevitada Dercy Gonçalves, o “símbalo sexual” Alberto Roberto não se contentava em disputar a atenção com Cacilda Becker. Já o “heterossexual” Haroldo lia a sorte da diva Dulcina de Moraes. E tudo observado atentamente pelo próprio Chico Anysio, que estava sentado no centro do palco do CCBB, e, vira e mexe, dava seus palpites. “Eu quero este texto. Vou usá-lo”, disse, referindo-se aos esquetes criados por Maggio. “Está bom”, comentou sobre o figurino do ator Jones Schneider. E o auditório do Centro Cultural lotado sempre ia abaixo entre palmas e gargalhadas.

Chico interagiu o tempo todo com a plateia. A sua capacidade de improviso impressionava. “O que vocês querem saber de mim?”, perguntou à plateia. “Qual é o meu time? Sou Brasiliense, adoro a Boca do Jacaré”. Lembrou histórias da carreira, de sua vida pessoal, como o pai que teve 17 filhos. “Não sei quem ele puxou”, comentou rindo.

Criticou os tempos da censura no país, que chamou de “nojenta”, alfinetou políticos, “como é o nome desse que está aí no governo mesmo?”, indagou referindo-se ao presidente Lula, e ainda revelou como era o processo de criação de seus personagens. “Eu pensava em todos os detalhes. Onde morava, que ocupação ele tinha, pra que time torcia, se era gay, homem, mulher. Era um trabalho amplo de composição”, contou. Mas o preferido do universo de 209 criaturas foi o primeiro deles, o professor Raimundo. “Ele é o mais respeitado pelos outros 208 personagens que criei. Por intermédio dele, eu fiz meu primeiro sucesso no rádio e ele ainda servia de escada para futuros grandes nomes do humor, como Walter D’Ávila, Brandão Filho, Costinha, Antônio Carlos”, destacou.

Além da encenação de Jones e Elisete, e depoimentos do próprio Chico, foram exibidos trechos de documentários sobre o homenageado e de programas antigos, comprovando como o humor do artista carimbado de gênio é atemporal. Ao fim do espetáculo, agradeceu emocionado a homenagem e brindou o público com um esquete ao lado do filho e empresário André Lucas. “Certa vez, eu disse ao Romário que ele estava enganado. Quando eu nasci, Deus disse foi pra mim: esse é o cara.” Ninguém duvida, Chico

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