Sustentados por manequins de plásticos, os figurinos de uma atriz são expostos como obra de arte. Um deles, lê-se na etiqueta, foi prova para a personagem Sadie Thompson, cortesã da montagem Chuva (1945), texto de Somerset Maugham. Com apliques de bolas vermelhas costurados a mão em fino tecido branco e saia preta justíssima afunilada à cintura, o modelo foi copiado à exaustão por madames e inspirou confecção de boneca vendida à escadaria de um secular teatro em Lisboa, nos idos dos anos 1940. Ao lado dessa histórica peça, vestido amarelo-ouro de rabo de sereia cai até o chão, expondo apliques negros aveludados. A vestimenta serviu à sedutora Domitila de Castro, heroína de O imperador galante (1967), do dramaturgo brasileiro Raimundo Magalhães Jr.
Os dois modelitos são vestígios de memória daquela que foi a primeira dama do teatro brasileiro no século 20. Fazem parte do relicário de Dulcina de Moraes (1908 – 1996), atriz, diretora, educadora e empreendedora, que ajudou a modernizar as artes cênicas do país. Estão abrigados no terceiro andar da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), situada no coração de Brasília. Higienizadas e recuperadas, as peças compõem pequeno lote que foi, recentemente, retirado da ação voraz do mofo e das traças. A maior parte, no entanto, está condenada a desaparecer com o passar dos dias. São cartas, diários, fotografias, documentos públicos, adereços e figurinos que se confundem com a evolução do teatro nacional. Fragmentos que ajudam a compor seis décadas dedicadas à arte de atuar.
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