Projeto concebido originalmente para a área de Ideias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília, Mitos do Teatro Brasileiro é calcado na memória das artes cênicas nacionais.

domingo, 16 de maio de 2010

Os sonhos de Dulcina


Sustentados por manequins de plásticos, os figurinos de uma atriz são expostos como obra de arte. Um deles, lê-se na etiqueta, foi prova para a personagem Sadie Thompson, cortesã da montagem Chuva (1945), texto de Somerset Maugham. Com apliques de bolas vermelhas costurados a mão em fino tecido branco e saia preta justíssima afunilada à cintura, o modelo foi copiado à exaustão por madames e inspirou confecção de boneca vendida à escadaria de um secular teatro em Lisboa, nos idos dos anos 1940. Ao lado dessa histórica peça, vestido amarelo-ouro de rabo de sereia cai até o chão, expondo apliques negros aveludados. A vestimenta serviu à sedutora Domitila de Castro, heroína de O imperador galante (1967), do dramaturgo brasileiro Raimundo Magalhães Jr.
Os dois modelitos são vestígios de memória daquela que foi a primeira dama do teatro brasileiro no século 20. Fazem parte do relicário de Dulcina de Moraes (1908 – 1996), atriz, diretora, educadora e empreendedora, que ajudou a modernizar as artes cênicas do país. Estão abrigados no terceiro andar da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), situada no coração de Brasília. Higienizadas e recuperadas, as peças compõem pequeno lote que foi, recentemente, retirado da ação voraz do mofo e das traças. A maior parte, no entanto, está condenada a desaparecer com o passar dos dias. São cartas, diários, fotografias, documentos públicos, adereços e figurinos que se confundem com a evolução do teatro nacional. Fragmentos que ajudam a compor seis décadas dedicadas à arte de atuar.

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