Chico só existe um
por Lucio in the sky
Chico Anysio é uma instituição da cultura brasileira. Um dos grandes humoristas do país, esse cearense de 79 anos se mostrou de grande versatilidade ao não restringir seu talento apenas ao humor, mas também à literatura (ele é autor de mais de 30 livros), cinema, teatro, música, pintura e, claro, rádio e televisão, onde construiu e dimensionou sua carreira numa esfera quase universal. Embora tenha começado no rádio, quando deixou de jogar bola para acompanhar a irmã num teste para emissora de sua cidade, foi nas telinhas de todo o país que popularizou seu gênio.
Sobre essa popularidade ele até conta uma anedota com fortes ares de verdade. Certa vez, num bate-papo descontraído pelos corredores da emissora Rede Globo, com seu criador, o magnata Roberto Marinho, o humorista comenta, encostado numa das pilastras da casa. “Dr. Roberto Marinho, toda vez que vejo essas colunas me sinto como uma delas”, diz. “Mas o que é isso seu Chico Anysio, o senhor é dono de toda essa emissora, o senhor ajudou a construir essa televisão, essa casa é sua”, responde eufórico o nosso Hearst. Hoje, olhando pelo retrovisor do tempo, Chico Anysio comenta. “É, ele só esqueceu de avisar aos filhos sobre isso”, comenta o artista, referindo-se ao fato de estar na geladeira da casa que o consagrou. Da casa que ajudou a erguer uma daquelas pilastras.
Mas o que importa é que seu talento, seus personagens, tipos e piadas estarão cravados em nossos corações indelevelmente. Não canso de dizer isso, assim como não canso de dizer que ele sempre foi nosso maior gênio do humor, inclusive, um dos precursores do stand up no país. Detalhe que os Gentilis da vida, cegos de vaidade, sempre esquecem.
No começo eu até que gostava de Jô Soares, que tem alguns tipos cativantes. Mas nunca deixei minha certeza abalar diante do enorme talento do seu Chico. Perdi a conta de quantas vezes assisti aos seus programas. Chico City, Chico Anysio Show, Chico Total, enfim, qualquer que fosse o nome, a “roupa” que ele vestisse, lá estava eu. Seus personagens marcaram minha infância, minha adolescência e até hoje perambulam em algum lugar do meu inconsciente. Coalhada, Bozó, Bento Carneiro, Jovem, Haroldo, o gay mais (hetero do planeta), Canabrava, Pantaleão, Painho, o inimitável Alberto Roberto, Al Cafone, Coronel Limoeiro, o vascaíno Fumaça, Justo Veríssimo, (aquele que não era feio, mas exótico), Neyde Taubaté, Popó, ufa, são tantos. A galeria do mestre comporta 209 personagens, cada um com RG própria, com personalidade diferente.
Na última quarta-feira o grande mestre foi homenageado no CCBB de Brasília. Um encontro inesquecível que emocionou as pessoas que passaram por lá mesmo com chuva desabando. Eu fui uma delas. Dei gargalhadas com as piadas disparadas à tira colo, com a inteligência e senso de humor de Chico, com a sensibilidade em entender o público e o laçar com pequenos gestos, com a melancolia que escorregava de suas falas entre uma anedota e outra. Olhando para ele ali, em cima do palco, tive a constatação de que algumas coisas são únicas. Só existe uma Ana Maria Campos, só existe uma Ingrid Bergman, só existe um Pelé, só existe um Paul McCartney e só existe um Chico Anysio. Nem daqui há duzentos anos existirá outro igual.
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