Arquivo Pessoal |
Cacilda Becker modernizou o teatro brasileiro com interpretações que se superavam a cada peça: homenagem, às 19h30, no palco do CCBB |
Ricardo Fuji/Divulgação |
Leona Cavalli conta no CCBB o processo de criação de Cacilda no teatro |
Iano Andrade/CB/D.A Press - 15/9/10 |
Bidô Galvão e Jones Schneider inspiram-se em Esperando Godot |
Andréa Vilas Boas/Divulgação |
A biógrafa MariaThereza Vargas volta a Brasília depois de 49 anos |
Brasília celebrava o seu primeiro aniversário. Era 21 de abril de 1961 e para comemorar a data, inaugurava-se o Teatro Nacional da nova capital. Mesmo inacabado, o espaço, mais uma obra de Oscar Niemeyer, recebeu a peça Em moeda corrente do país, de Abílio Pereira de Almeida, encenada pela companhia Teatro Cacilda Becker. Apesar da péssima acústica, os constantes ruídos externos e até uma queda de energia elétrica, o espetáculo foi um sucesso e aplaudido efusivamente pela plateia de 500 pessoas. “O que mais me chamou a atenção foi a presença dos operários que estavam construindo o teatro. Me lembro de vários deles com suas famílias mostrando orgulhosamente o que haviam feito. Foi bem interessante e uma noite linda”, lembra a pesquisadora e uma das maiores historiadoras das artes cênicas do país, Maria Thereza Vargas, que após 49 anos retorna hoje a Brasília para participar do Mitos do teatro brasileiro, projeto que a cada mês presta homenagem a uma personalidade teatral no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). No encontro de logo mais, a bola da vez é Cacilda Becker(1), considerada a grande atriz do teatro moderno brasileiro.
Foram 28 anos de carreira, 68 peças, dois filmes e uma novela em 48 anos de vida interrompidos durante a encenação da peça Esperando Godot, quando sofreu um derrame cerebral no intervalo do espetáculo e acabou morrendo semanas depois. O falecimento, em junho de 1969, mereceu uma homenagem em poesia de Carlos Drummond de Andrade: “A morte emendou a gramática. Morreram Cacilda Becker. Não era uma só. Eram tantas... Era uma pessoa e era um teatro. Morreram mil Cacildas em Cacilda.”
No palco do CCBB, além de Maria Thereza, que vai relembrar histórias da grande amiga e comadre, a atriz Leona Cavalli, que interpretou Cacilda Becker no teatro, numa montagem do diretor José Celso Martinez Corrêa, vai marcar presença. Para Leona, Cacilda sempre foi uma grande referência e dar vida à atriz nos palcos foi um trabalho complexo e de grande responsabilidade. “Ao mesmo tempo foi rico e profundo. Quando mudei para São Paulo, lembro que uma das primeiras coisas que li foi justamente a biografia que a Maria Thereza Vargas escreveu, Uma atriz: Cacilda Becker, e achei aquilo interessantíssimo. Me encantei pelo ser humano que ela era, as cartas que escrevia para a família, os amigos. Só depois no teatro é que fui ter contato com a Cacilda como grande intérprete mesmo”, conta Leona.
Cenas da vida
Enquanto Maria Thereza e Leona Cavalli vão participar de um bate-papo, os atores Jones Schneider e Bidô Galvão vão interpretar cenas inéditas criadas pelo jornalista e dramaturgo Sérgio Maggio envolvendo o universo de Cacilda. A primeira situação vai mostrar um encontro entre duas figuras fundamentais para a formação profissional da atriz: a diretora, empresária, dramaturga e crítica teatral Maria Jacintha e o também crítico e diretor Décio de Almeida Prado, aprofundando o engajamento político da atriz. “Era um lado que eu pouco conhecia dela. Sua luta contra a ditadura, sua preocupação com os atores e o teatro. E essa cena vai mostrar exatamente esse viés da Cacilda, a mulher política”, comenta Jones Schneider. Na segunda cena, será a relação afetiva de Cacilda Becker com o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Já a última encenação traz os personagens Vladimir e Estragon, da peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, último trabalho da grande dama do teatro moderno brasileiro. Para Bidô Galvão, que sempre nutriu uma admiração por Cacilda, ela deixou um legado importante para o teatro e o projeto Mitos ajuda a preservar e a resgatar a história dessas grandes figuras artísticas. “Cacilda sempre foi um nome forte. Acredito que o principal legado dela seja sua relevância na modernização do teatro brasileiro. Pelo que já pesquisei, ela sempre se preocupou em buscar coisas novas, se aprimorar. O Mitos é extremamente didático ao mesclar esse aspecto do documentário, da mistura da palestra com o teatro; como se fosse uma aula-espetáculo”, opina.
Para Maria Thereza Vargas, uma das biógrafas de Cacilda, o que mais impressionava, além de sua presença de palco, era sua dedicação e seriedade na vida e na carreira, e o fato de que, a cada trabalho, a atriz conseguia sobressair. “Ela tinha uma energia muito grande e uma capacidade de doação impressionante. Cacilda se superava e crescia a todo instante e o fato de ela praticamente ter morrido em cena prova o quanto amava o seu ofício e se dedicava a ele”, destaca a historiadora.
1 - Mulher de luta
Nascida Cacilda Becker Yáconis, em Pirassununga (SP), em 6 de abril de 1921, era filha do imigrante italiano Edmondo Yáconis e de Alzira Becker. Tinha apenas nove anos quando seus pais se separaram e sua mãe viu-se obrigada a criar as três filhas sozinha, uma delas a também atriz Cleyde Yáconis, que vive a Brígida na novela Passione, da TV Globo. Por este motivo, fixaram-se na cidade de Santos, onde a carreira de Cacilda veio se desenrolar na dança.
Mitos do Teatro Brasileiro — Cacilda Becker
Hoje, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Trecho 2, Lote 22), com os atores Jones Schneider e Bidô Galvão e tendo como debatedoras a historiadora Maria Thereza Vargas e a atriz Leona Cavalli. Participação: Silvana Di Faveri. Ingressos: Entrada franca. As senhas serão distribuídas na bilheteria com uma hora de antecedência. Telefone: 3310-7087. Não recomendado para menores de 12 anos. O CCBB disponibiliza ônibus gratuito saindo do Teatro Nacional a partir das 11h
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